Mas o que você sente?
Percebo que ainda é bem complicado para as pessoas entenderem o que é síndrome do pânico, depressão, uma crise de ansiedade. Todo mundo sabe o que você sente se falar “estou resfriada”, “quebrei um pé”, porém, quando falamos em doenças mentais é sempre um desafio colocar em palavras o que tá se passando aqui dentro.
Ao longo de todos esses anos fiquei tentando fazer uma análise interna para que eu também pudesse me entender e identificar quando uma crise tá chegando, porque nem sempre é de fato uma crise de pânico (infelizmente na maioria das vezes é), assim como aquela tristeza em determinada situação não é um episódio depressivo.
Toda essa observação é importante pra que uma pessoa com depressão entenda que ela não é depressiva 100% do tempo, que também conseguimos encontrar uma estabilidade que nos permite viver bem e conviver com a doença.
Sempre me perguntam o que sinto quando tenho uma crise de ansiedade e pânico, e existem vários níveis de crise, pode ser desde uma simples tremedeira até achar que está infartando. Sim, inclusive já parei no hospital uma vez por causa da uma crise de pânico, eu achei que estava infartando e paralisei.
E chamei o Samu. Sim, eu acreditei que estava morrendo e chamei uma ambulância.
É real, a crise de pânico pode fazer isso e muito mais. O seu cérebro te sabota de tal maneira que você acredita e faz coisas que te fazem sentir a pior pessoa do mundo. Já me senti assim inúmeras vezes. A culpa é um sentimento constante em quem tem essas patologias, nos enxergamos como “xiliquentos”, “descompensados”, sendo que é químico, é apenas um sintoma de que algo está muito errado.
Essa é umas das partes mais difíceis, aceitar que tem coisas que realmente não conseguimos controlar e isso não é uma vergonha.
Mas afinal, o que você sente? Bem, descrevendo friamente o que sinto é uma lista infindável de sintomas desconfortáveis, fisicos e mentais, que me acompanham diariamente. Suores frios, tremores, um medo sem fim, uma vontade de chorar que vem e vai do nada, quando não estou em casa ou em lugares que me sinto segura fica bem mais difícil me acalmar, dependendo da crise só consigo voltar ao eixo com calmantes. Os sintomas físicos são intensos e dolorosos, após as crises fico extremamente cansada e o corpo sofre, tudo dói, fico exausta. Isso é uma característica bem presente, a falta de força, o cansaço constante, uma sensação de nunca se reestabelecer depois do sono.
Entendam, não é falta de vontade, é falta de força mesmo, o corpo não responde, por isso não julgue um convite declinado, saiba que quando recusamos dói mais na gente do que em vocês. Às vezes (e em alguns casos quase sempre) é doloroso sair de casa, de onde nos sentimos mais seguros, e forçar alguma situação pode piorar ainda mais aquele momento que estamos passando.
Tenham empatia, essa é a melhor maneira de começar a entender e ajudar.
Obrigada!
