À minha mãe e ao meu pai, com Orgulho.

ETA Santo André
comorgulho
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3 min readFeb 8, 2021

A dor do parto é também de quem nasce. Todo parto decreta um pesaroso abandono. Nascer é afastar-se — em lágrimas — do paraíso. É condenar-se à liberdade.

(Bartolomeu Campos de Queirós)

Fábio Justino

De repente nos vemos em um confronto, em busca de paz. Encarar aqueles que mais amamos, trazendo a eles a nossa verdade, às vezes com ares de tragédia, às vezes com toda a inocência de quem entrega uma flor, pode significar o momento mais dolorido que guarda o nosso caminho. Mais difícil que nos olharmos no espelho e reconhecermos quem somos, é a ansiedade pelo olhar de trégua que ainda nem pedimos. É natural que nossos pais sejam o centro de boa parte de nossa vida, e que sua aprovação do que fazemos, de quem somos, dos passos que daremos, defina se já somos ou se ainda buscaremos ser felizes.

Nem sempre é simples. Libertar-se dói. E mesmo que tenhamos uma ótima relação com nossos pais ou com aqueles que ocupam seu lugar — como nossos avós, tios, irmãos -, mesmo que pertençamos a uma geração mais solta, mais leve, haverá sempre aquele momento, breve que seja, mas crucial, em que a resposta à nossa verdade, ao que revelamos de nós, confirmará o nosso lugar na nossa própria família.

Porque, sim, já é sabido, às vezes a gente terá que escolher a nossa família. Seremos expulsos de casa, renegados, agredidos, difamados, como tanta gente LGBTQIA+ é. Com sorte, e muitas vezes temos essa sorte, a vida nos trará amigos e amores e formaremos uma família a partir de nossas verdades, constituída por nossos sentimentos.

Nada substitui, porém, o conforto de sermos amados por quem mais amamos e por sermos quem somos, validando as expectativas de nossas infâncias. Quando nos assumimos aos nossos pais (de sangue ou coração), completamos um ciclo de autoaceitação, de amor-próprio, de orgulho de nossa identidade. É o nosso primeiro grande ato político, a nossa primeira grande coragem. É quando olhamos nos olhos da possibilidade da rejeição, e tornamo-nos livres pro resto do mundo.

Por isso, “À minha mãe e ao meu pai, com Orgulho” é uma homenagem a todas as histórias, de todas as pessoas que um dia tiveram a experiência de olhar nos olhos de quem amavam para viver uma vida de afeto e verdade. É também inspiração a quem ainda constrói a própria história. Experiências tristes ou felizes que contribuem para nos dar mais visibilidade, nos lares e fora deles, e para uma sociedade mais justa, ciente e igualitária. Porque somos filhos, netos, irmãos, pais, somos parte das famílias e, se nos expomos, é para firmar o amor que sentimos e a que temos direito.

Este mural é mais que uma coleção de depoimentos. São microcrônicas, de vidas e lembranças, que guardam pessoas e afetos. Palavras que trazem abraços, sorrisos, choros e alívios. Histórias de reencontros, de recomeços entre mães, pais e filhos.

Que “À minha mãe e ao meu pai, com Orgulho” traga alento a quem busca, coragem a quem precisa e empatia a quem nem sabe que deseja. Porque não é um armário que a gente abre, é o coração.

Fábio Justino
Educadxr em Tecnologias e Artes do Sesc Santo André
e idealizador do projeto.

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ETA Santo André
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Página dedicada à programação do Espaço de Tecnologias e Artes do Sesc Santo André.