Samba no pé de laranja
Minha mãe escovava os dentes com alguma pressa, após o almoço. A urgência do trabalho empurrava as horas. Eu cheguei, parei na porta. Encostei em um dos batentes, como quem ia dizer um cochicho envergonhado, mas disse forte em voz alta: “mãe, eu estou namorando uma menina”. A resposta veio sem alterar o ritmo da escova de dentes: “Que bom! Sempre achei que combinaria melhor com a sua sensibilidade!”. Para mim, purossentimento. E depois, um abraço. Com os dentes já escovados, minha mãe me deu um abraço. Um abraço e só. Sem nenhuma afetação, nenhum perdão descabido, nem sombra de autoafirmação de sentimento. Um afetoabraço. E pronto.
Samba no pé de laranja
o vento assobia e arranja
o som que sacode e balança
a copa animada, que dança.
ainda que o verso derrape ou desafine. isso não deve preocupar. aquele dia, foi a poesia que tirou a árvore para dançar.
Manu de Carvalho