Por dentro das seitas: depoimento de ex-membro da Gnosis

Daniele Cavalcante
c/textos
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14 min readFeb 22, 2019

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No período de 2007 a 2011, Lívia (nome fictício) fez parte da A.G.E.A.C.A.C. (Associação Gnóstica de Estudos Antropológicos e Culturais, Arte e Ciência), uma das muitas organizações da Gnosis. Recebi seu relato por áudio após a postagem de alguns dos meus primeiros textos sobre seitas abusivas, com os quais ela se identificou.

Durante o relato de mais de uma hora de duração, Lívia se esforça para recordar de rituais e rotinas, coisas que “deletou” de sua mente após abandonar a religião. O objetivo do depoimento é relatar como se sentiu durante esses anos dentro da Gnosis. E quanto a isso, sua memória não falha.

Em alguns momentos, ela procura deixar de culpar a si mesma por ter passado por situações de sofrimento. “Eu tenho que parar de colocar em mim a culpa por tudo o que aconteceu”.

Lívia me contou que os membros da Gnosis são desencorajados a pesquisar sobre a religião na internet, por medo dos líderes de que os seguidores encontrem algo negativo sobre eles. O zelo com a imagem da Gnosis é tão grande que eles conseguem tirar todos os materiais negativos e acusações da web.

Depois de algum tempo fora da Gnosis, Lívia começou a pesquisar e encontrou um fórum de ex-membros que relataram o sofrimento que passaram na religião, e tiveram suas vidas “destruídas por muitos anos”. O fórum hoje não existe mais. “Eles conseguem tirar tudo do ar, é bizarro”, disse. “Um site de mesmo nome a favor da Gnosis foi colocado no lugar [do fórum]”.

Mais curioso ainda é que textos atuais em blogs afirmam que o novo site a favor da Gnosis, colocado no ar para substituir o fórum, foi na verdade criado por um satanista infiltrado na Gnosis para desviar os fiéis de seu caminho.

Mas vamos nos ater à história de Lívia. O relato que você lerá abaixo não segue necessariamente uma ordem cronológica ou linear. Como ela explica, sua mente não é capaz de se recordar de tudo com clareza, e algumas descrições e datas são imprecisas. O foco é o como uma seita abusiva dessa natureza controla o modo de pensar, as decisões, o comportamento, até que o seguidor se torne, nas palavras de Lívia, “uma réplica malfeita” de si mesmo.

Devido à natureza não-linear do depoimento, organizei alguns trechos em ordem cronológica, e outros em tópicos. Você lerá uma versão organizada das palavras de Lívia, com o máximo de fidelidade possível, intercalada com transcrições na íntegra.

Como tudo começou

Por volta de seus 20 anos, Lívia tinha curiosidade em assuntos esotéricos e fazia parte de um pequeno grupo pagão que se reunia para conversar e realizar alguns rituais simples. Em 2006, ela conheceu Paulo, amigo de seus amigos, que mais tarde seria seu namorado.

Paulo era um rapaz de cabelos compridos que também tinha interesse em misticismo. O casal gostava de ouvir rock, entre outras coisas típicas dos jovens, e namoraram por seis meses, até que Paulo começou a frequentar reuniões da A.G.E.A.C.A.C.

Depois que Paulo começou a fazer parte do grupo, Lívia notou algumas mudanças no seu comportamento. Ele tinha uma série de cartazes da A.G.E.A.C.A.C sobre projeção astral, filosofia do ser, chakras, despertando a consciência, meditação e vários outros cursos realizados pela organização para atrair pessoas com anseio religioso não-cristão.

A mudança que mais indicou que algo anormal estava acontecendo foi quando Paulo cortou o cabelo, algo que a deixou “muito puta”. Não que o cabelo fosse muito importante, mas porque para Lívia era óbvio que ele agia sob a influência de terceiros, que foi convencido por uma religião, por mais que ele negasse.

Paulo começou a frequentar as reuniões da A.G.E.A.C.A.C durante a semana e o sexo já não era mais o mesmo — ele não tinha mais orgasmos. Também mudou o estilo de músicas que ouvia, as coisas que fazia, suas atividades.

Após cerca de 7 meses, ele convidou Lívia para uma das reuniões da A.G.E.A.C.A.C, uma palestra que servia para convidar pessoas para o curso de Gnosis, com o objetivo de captar pessoas interessadas por religiões não-cristãs.

“O curso de ‘Primeira Câmara’ sobre Gnosis apresenta princípios da religião, e depois se passa para a Segunda Câmara. Tudo é feito de forma a ‘capturar’ pessoas que tenham dúvidas, anseios. O curso é convincente e tudo o que dizem parece fazer sentido com o que as pessoas acreditavam previamente. Mais tarde, eu percebi que tudo isso é puro marketing e tática usada por seitas de todo lugar”.

Ela foi convidada para as câmaras seguintes, que tinham estudos mais avançados. Para a segunda câmara, era preciso pagar uma taxa e comprar um uniforme, uma veste azul e uma sandália “horrível” da humildade.

Proibições veladas

De acordo com Lívia, havia uma série de regras. “Homens não podiam ter cabelo comprido, mulher não pode usar cabelo curto e não podia usar piercing ou objetos que refletem — embora mulheres pudessem usar brinco. Essas contradições foram um primeiro sinal de alerta.”

Lívia lembra-se de uma menina que tinha muita dúvida e muito medo. “Ela não queria abrir mão dos amigos dela para entrar na Gnosis, mas os instrutores disseram que isso era necessário, e muito provavelmente, hoje tenho certeza, era porque ela tinha amigos gays e lésbicas”.

“Em primeiro momento a religião te faz acreditar que eles não mandam em nada na sua vida e que as suas decisões são exclusivamente suas. Eles não tem nada contra seu estilo de vida, mas tudo era “proibido”.

“Falavam que não havia nada proibido, mas é realmente proibido. Você não deve ouvir rock porque afeta de tal forma os chakras… mas essa é uma ‘decisão sua’, eles dizem. Eles te fazem sentir culpa, sentir medo, se sentir afastado de tudo o que você conhece, o que você ama, o que você é, e eles ainda falam que não é proibido? Que eles não têm nada contra, que foi uma decisão sua? Não foi uma decisão sua.”

“Quando uma decisão é tomada por medo, medo de perder as coisas, deixa de ser uma decisão sua. Se você ameaça uma testemunha, [ela] deixa de ser no tribunal uma testemunha viável. Porque é diferente com uma seita?

Nenhuma decisão que você toma quando está coagido por uma seita é uma decisão sua”.

Reuniões e rituais

Quando se entra na Segunda Câmara, tudo muda. É preciso usar um uniforme azul, e é feito um ritual “que te faz sentir medo de algumas coisas”, bem diferente dos rituais para a natureza que Lívia praticava no grupo de paganismo.

Na Segunda Câmara da Gnosis era preciso ficar vendado em um ambiente iluminado apenas à luz de velas.

“As pessoas te empurram de um lado pro outro orientando o que fazer, ‘tem que colocar a mão aqui e prometer tal coisa, tem que repetir tal frase’, e em algum momento alguém coloca uma espada no seu ombro e te faz prometer que tudo o que você vai ver, descobrir e ouvir é segredo, e você não pode de forma alguma falar pra ninguém. Ou ‘Deus’ vai acabar contigo”.

“Durante todo o período que estive lá dentro e não conseguia sair, essas palavras estavam na minha cabeça.”

Guardar segredos era obrigatório até entre membros. Era dito que “se você tivesse alguma experiência sobrenatural, visse gnomo, fizesse uma viagem astral, passasse por alguma provação, não podia contar pra ninguém, porque [se o fizesse] estaria se gabando.

“E o que isso é além de uma alienação? Digamos que eu nunca tenha passado por nenhuma experiência extra-sensorial, como vou saber se ninguém mais teve se ninguém fala sobre o assunto? Imagina se as pessoas tivessem o direito de falar sobre as experiências, todo mundo ia falar ‘porra nunca aconteceu nada comigo’. E as pessoas iam cair na real de que tudo é uma imensa baboseira, não é mesmo?”

“Na Segunda Câmara não tem nada de curso, é uma religião”, afirma. Quatro vezes por semana tinha que ir em alguma reunião. Não era obrigatório, mas ‘é bom ir’, e quem não ia, se tornava alvo de fofoca entre os demais membros.”

Segundo o relato, também havia muito preconceito e homofobia. “Eu colocava uma barreira [sobre esse assunto]. ‘Isso não é a instituição, são as pessoas’, mas a instituição cooperava 200% para que as pessoas pensassem daquela forma”.

Havia rituais diferentes na terça, quarta, quinta e sábado. “Não consigo me lembrar porque deletei da cabeça, pois foram os piores anos da minha vida”.

“Eu participava dos rituais todo dia e a culpa quando não ia era enorme. Todo dia 27 do mês tinha um ritual, um culto mensal”. Lívia lamenta que em determinado mês, o dia 27 era aniversário de uma amiga e ela não pode ir porque era o dia do culto. “Era um sentimento horrível”.

“Era muito ritual, muita coisa, e você ficava longe de muita coisa. Sábado, natal, páscoa, réveillon. Você perdia esse tempo com a família e com os amigos.”

Na Segunda Câmara, Lívia fez um curso pra virar instrutora da A.G.E.A.C.A.C. Ela conta que os professores desse curso humilhavam alunos em público sobre os erros cometidos, sobre as roupas simples que estavam usando, até mesmo o sotaque dos participantes era motivo de ridicularização. “Era muito humilhante a forma como falavam”.

Desejo de sair

“Eu perdi os meus 20 e poucos anos praticamente inteiros. Eu perdi essa época da minha vida. Eu joguei ela fora.”

“Nunca tive tanta vontade de morrer como naqueles anos”, conta. Ela pensava frequentemente na possibilidade de deixar a seita, mas ao mesmo tempo questionava “como posso sair daqui se eu sei toda essa verdade e não posso escapar dela?”

“Eu pensava ‘como posso viver fora tendo o conhecimento que eu tenho? Não aguento ficar aqui mas se sair não vou aguentar também. Como vou sair sabendo de coisas que vão acontecer ou já aconteceram?’ E era tudo mentira. E era tudo um sofrimento. Um sofrimento e medo que existia única e exclusivamente pra fazer as pessoas ficarem lá dentro”.

“Pensar nisso na época, era uma dor constante. [Hoje] eu aprendi a lidar com isso, aprendi a aceitar que isso aconteceu e que isso fez de mim uma pessoa mais forte, mas ainda assim traz muita dor.”

Além disso, Lívia só podia sair da religião se estivesse disposta a terminar com Paulo. “Eu queria sair da Gnosis mas não saí porque meu namorado estava lá dentro, e se eu saísse tinha que terminar com ele. Ele não podia estar na Gnosis e eu sair. Tudo gira em torno dos relacionamentos”.

Gnosis e sexualidade

Sexo é um elemento fundamental dentro da Gnosis, e a maioria dos rituais e obrigações giravam em torno do sexo, de acordo com o relato.

Através do sexo, a Gnosis fazia as pessoas se sentirem muito culpadas, afirma Lívia, e isso servia para alienar a família da pessoa.

“Todo mundo tinha que ser muito puro. Não podia comer carne de porco porque ela macula sua energia sexual. [Havia] uma série de regras e tudo girava em torno de sexo e magia sexual”.

Outra regra determinava que só era permitido praticar sexo depois do casamento e, por isso, após entrar para a Segunda Câmara, Lívia e Paulo nunca mais tiveram relações sexuais.

Além disso, não podia praticar o sexo por prazer, e não podia chegar ao orgasmo. Para a Gnosis, o sexo deveria ser tão somente um ritual pelo ascender do Kundalini.

“Descobri que várias mulheres foram estupradas constantemente no casamento pelos seus maridos, porque elas não queriam transar, mas os maridos queriam, e usavam a ascensão do Kundalini como pura desculpa, então elas eram obrigadas a simplesmente aguentar o ritual. As vezes eu penso que talvez eu tenha chegado perto de passar por uma coisa horrível dessas”.

Uma comunidade gnóstica

Lívia fez um curso pra se tornar sacerdotisa. Esse curso é feito em uma comunidade gnóstica afastada da cidade o suficiente para exigir muitas horas de viagem em um ônibus. “O sofrimento começa desde já né”, brinca Lívia ao lembrar do desconforto da viagem.

Nessa comunidade, não era permitido usar o celular, nem ter acesso à internet. Havia pessoas muito pobres vivendo lá, e “coincidentemente a pessoa rica era a líder da Gnosis no Brasil”.

Samael Aun Weor, fundador do Movimento Gnóstico Cristão Universal, descrito como “o Quinto Anjo do Apocalipse”, “Senhor do Quinto Raio”, “O Logos de Marte”, ou “o Décimo Avatar de Vishnu”.

Todos os moradores dessa comunidade eram gnósticos. Nela, há uma câmara (igreja) e os rituais eram um pouco diferentes. As pessoas que participavam ficavam acampadas em barracas ou em um dormitório conjunto, separados por homens e mulheres, em “condições ridículas”.

As pessoas, de acordo com o relato, dormiam sujas em sacos de dormir. “Tudo me parecia sujo. Na Gnosis tem que tomar banho gelado, não pode tomar banho quente”.

“Eu fiquei acampada, tomando banho gelado, sem contato com nada, nem com ninguém. Se quisesse usar internet tinha q ir na casa do líder (que era dono da gráfica)”

Uma vida resumida a rituais

Quando Lívia concluiu este curso, tudo o que era ruim piorou. “Piorou muito, tudo do que tinha medo piorou. Não podia sair da Gnosis. Agora tinha responsabilidade, ser sacerdotisa”.

“Todo dia tinha que checar se as velas estavam acesas. O lugar ficava fedendo a mofo e tinha que limpar, e tinha que estar sempre florido. Além de ter que me preocupar com a faculdade, tinha que conferir todo dia se a vela ‘tava acesa e fazer arranjos de flores.”

“Todo sábado eu acordava cedo, passava na floricultura, comprava flor, comprava espuma, e fazia lindos arranjos de flor sob lágrimas. Eu chorava enquanto fazia aqueles arranjos, porque eu não aguentava mais. Eu tinha que fazer o vinho — não podia comprar. Eu comprava as uvas, espremia os vinhos com minhas próprias mãos porque não podia usar qualquer objeto”.

“Essa era minha vida. Eu tinha que estar terça, quarta, quinta, sábado e vários outros dias por mês, ministrando rituais sob lágrimas. Era uma benção usar aquele véu, porque durante o ritual eu podia ficar chorando em silêncio”.

“Eu queria estar fazendo outras coisas da minha vida. E eu não podia porque tinha uma responsabilidade. E como eu podia ir embora, sabendo o que eu sabia? Tendo as informações que eu tinha? A Gnosis fazia sentir muito medo do futuro. ‘O tempo tá acabando, o apocalipse tá vindo. Em pouco tempo não vai ter tempo de ascender o seu ser’. Como vou sair se eu sei o que eu sei?”

Lívia também contou um pouco sobre as construções da Gnosis, “porque isso é muito usado por seitas e pode ser útil pras outras pessoas”.

A base da Gnosis é que existe um verdadeiro Eu, um ser que você é na verdade, e esse ser está possuído por egos que você precisa eliminar. Se você gosta de rock, é porquê tem um ego dentro de você. Se você gosta de comer, tem o ego da gula”.

No ritual você nomeia, escreve num papel o nome do ego que quer eliminar. E todo dia que tinha esse ritual você renovava ele e falava em voz alta, pra todo mundo ouvir. Todo mundo! Então, todo mundo sabia o que era. Meu problema era pequeno: falar palavrão. Mas algumas pessoas falavam coisas que eu imagino que deveriam ser muito humilhantes para elas. Acho que o que mais humilhava era relacionado a sexo”.

“O trabalho de eliminação do ego é feito com energia sexual. Então se você é solteiro e não pratica magia sexual com sexo, você pratica com exercício de respiração, que você deve fazer todos os dias… para sublimação da energia sexual.”

Lívia descobriu que um dos exercícios ensinados pela Gnosis para supostamente sublimar a energia sexual era nada mais que um exercício comum de respiração . “Eu descobri três semanas atrás num episódio de série [Queer Eye] que é um exercício pra ansiedade”.

Assim como exercícios comuns são ensinados como algo esotérico, Lívia também disse que os livros da Gnosis são plágios. “Metade dos livros do Samael Aun Weor é plágio de outras ideias, de outras coisas”.

Ela menciona que Samael (pseudônimo de Victor Manuel Gómez Rodríguez) tem uma história triste de vida, “mas quando você começa a pesquisar em volta, é tudo uma puta duma mentirosidade do caramba”.

“Por exemplo, a Gnosis fala de um povo antigo que um dia andou sobre a Terra. Mas aí eu fui ver e isso é de um livro de ficção científica. Saca, é a porra de ficção científica pura, e os caras plagiam e falam que é realmente um povo que viveu na terra antes dos dinossauros”.

Saída

Lívia estava com depressão e conversava com Paulo sobre querer sair e não poder. “Eu não aguentava mais fazer os rituais e preparar os arranjos de flor. Aquilo tava acabando comigo, se eu continuasse aquilo eu ia morrer”.

“Então eu conversei com alguém um dia e falei que ia parar com minhas responsabilidades de Isis [sacerdotisa] por um tempo, porque eu precisava pensar.”

Esse foi o primeiro passo e, com isso, ela podia pensar um pouco mais sobre o assunto.

Paulo, sempre mais dedicado à Gnosis, resolveu fazer um curso para se tornar missionário internacional, que ocorria na mesma comunidade do curso de sacerdotisa, e tinha três meses de duração.

Por algum tempo, Lívia e Paulo conversavam por telefone, mas não havia mais assunto. Se falavam apenas para trocar frases curtas. Ela continuou frequentando os rituais, mas começou a ir um pouco menos, até que não foi mais. “Só consegui fazer isso porque meu namorado estava viajando. Eu ficava em casa. Foram três meses que ficava enclausurada sem fazer nada”.

“Eu nunca mais fui, nunca mais falei com ninguém, nunca voltei lá, provavelmente tacaram fogo nas minhas vestes em algum momento.”

“Eu falava muito pouco com meu namorado, porque não usam telefone lá. Ele usava telefone público. A gente ligava um pro outro pra falar sobre o clima, basicamente.”

“Acho que na verdade a gente não tinha mais nenhum relacionamento, mas a Gnosis fazia a gente acreditar que sim”.

“Quando ele foi viajar, tive tempo e pude pensar sem pressão de ficar presente. Quando consegui parar de ir, eu me senti livre, finalmente. Me senti finalmente como eu mesma novamente. Porque eu já não era eu mesma. Eu não ouvia mais as musicas que queria ouvir, não via mais os filmes que eu gostava, porque tudo isso são traços de personalidade, e personalidade na Gnosis é ego, e ego é demônio.”

“Durante 5 anos da minha vida eu fui uma réplica malfeita de mim mesma, que não sentia prazer em nada na vida, não fazia nada do que desejava fazer, tinha medo do que poderia acontecer, medo de uma mística que não existia… e quando ele foi viajar, consegui parar de pensar naquelas coisas e ficar livre daquelas coisas”.

Lívia e Paulo terminaram amigavelmente por telefone, enquanto ele ainda estava viajando.

No final do depoimento, Lívia deixou um recado para os que publicaram textos a favor da Gnosis no blog que foi colocado no lugar do fórum de depoimentos dos ex-membros:

“Que bom que você que está na Gnosis e se sente feliz lá dentro. Eu fico feliz por você por estar feliz lá dentro. Mas que pena que sua felicidade precisa vir de uma mentira e de medo.”

E também deixou uma mensagem para os que ainda estão na Gnosis, com medo de saírem:

“E qualquer um que esteja lá dentro agora e esteja com o mesmo medo que eu, o único medo que você tem que ter é o de lidar com a própria cabeça depois que sai, porque não é fácil admitir que você acreditou naquilo, e eu me sinto tola todos os dias, sinto que perdi meu tempo, e é horrível ver que perdeu tanto tempo na vida por uma mentira, uma mentira tão absurda que como alguém como você acreditou? Mas aquilo aconteceu e não tem mais o que fazer além de lidar agora, né?”

“O bom é que com esses textos as pessoas que pesquisam no Google por seitas, elas vão poder encontrar agora e saber que não estão sozinhas.”

Pesquisa e depoimentos

Este é o segundo depoimento de ex-membro de seita a ser publicado no Comtextos (o primeiro foi este aqui). Outros serão compartilhados em breve, o um deles pode ser o seu.

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Daniele Cavalcante
c/textos

Redatora de ciência e tecnologia no Canaltech, redatora freelancer e ghostwriter.