Análise da Campanha de Lingerie da Marca Intimissi

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comunicacaoinclusiva
6 min readAug 27, 2021

Por: Guilherme Braida e Rafaella Caloi / Orientadora: Profª Mirtes de Moraes

A publicidade é uma forma de comunicação muito ampla, na qual a cada dia que passa abrange um número de pessoas cada vez maior. Por sua vez, ir atrás de uma forma de comunicação mais inclusiva e fugindo de estereótipos é o importante, pois, dentro de uma sociedade de sete bilhões de pessoas nem todas são iguais e é através da publicidade que buscamos essa representação. Porém, vale ressaltar que mesmo a sociedade sendo diversa do jeito que é, as propagandas ainda não avançaram nesse nível e sentido e as pessoas muitas vezes não se sentem representadas através das propagandas, desistindo até mesmo da compra de um produto ou serviço.

Em primeiro lugar, para falar sobre uma forma de comunicação mais inclusiva não podemos esquecer de alguns conceitos que são ao mesmo tempo facilmente confundidos, muito importantes e determinantes para essa construção dessa análise de conceitos, que são: gênero, diversidade, inclusão e corpos dissidentes.

Gênero, pode ser definido segundo Joan Scott, como uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. A partir da proliferação dos estudos do sexo e da sexualidade, o gênero se tornou uma palavra particularmente útil, porque oferece um meio de distinguir a prática sexual dos papéis atribuídos às mulheres e aos homens. Encontramos outros conceitos importantes que também nos remetem a uma forma de comunicação mais inclusiva, esses conceitos são Diversidade, que designa, normalmente, a qualidade ou a condição do que é diverso, as características ou elementos diversos entre si, que existem sobre um assunto, ambiente, etc. (KONZEN, 2012, p. 41) e na definição de Hegel, “‘diversidade’ expressa que dois ou mais objetos, sujeitos, etc. tanto possuem a ‘determinação da desigualdade’ (Bestimmung der Ungleichheit) quanto a determinação da ‘igualdade’ (Gleichheit), o que a distingue, assim, da mera diferença” logo, a diversidade visa perceber a existência de mulheres, negros, trans, idosos, deficientes entre outros na sociedade em que vivemos; inclusão por sua vez, visa que a diversidade tenha chances iguais para desenvolver como podemos ver num exemplo mais simples que faz essa distinção onde “diversidade é chamar para uma festa, inclusão é chamar para dançar”; por fim, corpos dissidentes podem ser entendidos como corpos que a partir de suas especificidades e diferenças se movimentam e dizem sobre seus pertencimentos e (re)existências.

Retomando para o conceito de corpos discentes, temos algumas representações, apresentadas por meio não só apenas da parte feminina quanto da parte masculina. A parte feminina visa um estereótipo no qual a mulher tem que ter o corpo perfeito (magra, cintura fina, peles sem rugas), cabelos perfeitos (lisos, compridos, hidratados) e também é objetificada (reconhecida pelas partes do seu corpo como bunda e seios). E esses estereótipos no qual reforçam um padrão de beleza vão de encontro com uma gama de mulheres insatisfeitas com seus corpos e isso pode causar graves doenças como anorexia, bulimia entre outros. Uma outra visão colocada sobre a mulher, é a mulher dos trinta anos, que é a mulher multifuncional; essa por sua vez tem que mostrar um papel de quem faz tudo é mãe; esposa; tudo ao mesmo tempo. Da parte masculina é muito mais difícil notar a presença de estereótipos, mas podemos vê-los presentes em representações de homens como máquinas de sexo, provedores, fortes e no caso do homem, se não quiser sexo é taxado de frouxa. O homem assim como a mulher pode também ser visto em outras representações dependendo de seus cenários, idades e assim, construindo um modelo de homens como super-heróis, super-pais e até mesmo um homem que realiza as atividades domésticas.

Contudo numa sociedade tão atual e tão contemporânea como a que vivemos é de extrema importância que haja a desconstrução sobre essas naturalizações que foram construídas durante um processo de décadas. Logo nos questionamos por exemplo, porque quando uma mulher realiza as atividades domésticas, se diz que a mesma não fez mais que sua obrigação e quando essas atividades são realizadas por alguém do sexo masculino, ele é exaltado e parabenizado, sendo que em contrapartida fazer as atividades domésticas nunca deixou de ser um afazer tanto do homem quanto da mulher.

Logo, o papel do homem e da mulher na sociedade são guiados por dezenas de estereótipos os quais apresentam uma discrepância diante o comportamento esperado tanto pelo homem quanto pela mulher. Podemos ter como exemplo claro dessa discrepância o choro e o carinho. O choro quando é uma ação que começa pela mulher significa fragilidade, carência e necessidade consolo e quando é o homem quem chora, é visto como algo negativo, como alguém fraco, afeminado e alguém que não merece o respeito da sociedade. Já o carinho vai pelo mesmo caminho, a mulher tem obrigação pela visão da sociedade em dar carinho para os seus filhos, esposo, amigos e familiares, enquanto do lado do homem, se ele não praticar essa ação, está tudo bem e isso ocorre porque durante anos a nossa sociedade sempre visou e praticou o machismo, mas com a evolução da sociedade a cada dia que passa conseguimos tentar mudar e resinificar essa visão.

Em segundo lugar, vamos abordar o problema central no qual permeia o foco da nossa discussão, que são os padrões impostos pela moda sobre o corpo feminino.

Portanto, retomando para a questão da figura feminina, notamos que todas as mulheres sem exceção usam determinados tipos de roupas como calcinhas, sutiãs e muitas delas não são representadas pois a propaganda só mostra um corpo taxado de perfeito. Na hora de comprar um sutiã por exemplo, que é um produto usado por todas as mulheres de todos os biótipos, só encontramos mulheres magras e ‘perfeitas’ nas propagandas.

Podemos notar através da propaganda de lingerie da marca Intimissimi, que é feita pela atriz Bruna Marquezine, na qual a marca mostra suas lingeries e seus produtos através de mulheres magras, estereotipadas e de corpo desejado como modelos.

Nem todas as mulheres, têm o corpo igual ao da Bruna e por sua vez se sentem frustradas ao provar a lingerie e ver que não caiu tão bem no seu corpo como no da modelo. Essa frustração causa na cliente que antes de tudo é um ser humano uma desistência de compra da marca e também, pode causar problemas psicológicos pela comparação feita e pode também até acarretar em problemas de saúde como anorexia, por mulheres que deixam de comer buscando esse corpo perfeito imposto pela marca para vestir algo necessário para todas, pois diariamente vemos nas propagandas a taxação da perfeição e achamos que temos que ser iguais à essas pessoas seguindo todos os padrões que levam à perfeição, fazendo o que for preciso para atingir esse objetivo.

Contudo, devemos lembrar que estamos no século XXI e que a cada ano surgem novas gerações de publicitários e cada uma é diferente pois à medida que o mundo avança tão rápido, as informações também mudam. Logo, essa nova geração de publicitários têm a obrigação, o dever e a responsabilidade de mudar as realidades impostas e encontradas nessas campanhas sobre o corpo estereotipado. Não podemos aceitar mais que as mulheres sofrem para atingir o corpo perfeito, não podemos aceitar que as mulheres parem de comer para alcançarem a cintura ideal, não podemos tolerar que homens passem horas e mais horas na academia em busca de um corpo estruturado e desejado pela influência da mídia. Essa visão é ultrapassada. Quem as mídias e marcas pensam que são para definirem e implementarem um padrão de beleza e de corpo em meio ao século XXI? Precisamos fazer com que essas empresas entendam que está tudo bem ser quem você é, que está tudo bem se amar do jeito que somos, e é a partir da nova geração de publicitários que conseguiremos realizar isso.

Não podemos mais tolerar que marcas façam campanhas e peças publicitárias pontuais sem a diversidade, não podemos deixar que as marcas sejam vistas e assemelhadas por falta de inclusão, quando na realidade as propagandas estão visando o lucro e a perfeição. As publicidades precisam acabar com os corpos perfeitos, com os padrões de beleza e com as cobranças que são geradas sobre as pessoas. As marcas precisam se posicionar constantemente e precisam sempre incluir os corpos gordos, os corpos LGBTQIA+, os corpos velhos, os corpos pretos, os corpos com celulite e todos os corpos que representem a sociedade brasileira.

O século XXI é a época da inclusão, é a época em que as pessoas estão se aceitando por quem são e isso não está ocorrendo por conta das campanhas publicitárias e sim porque as pessoas estão marchando e gritando nas ruas e as pessoas estão dando a cara a tapa. O Brasil quer ver mudança, o mundo quer ver mudança e se as pessoas mentalmente ultrapassas, que não concordam com a diversidade e o amor tentarem impedir, elas irão perder, pois a mudança e a revolução passarão por cima, chega de retrocesso, chega de padrões e corpos perfeitos.

Fonte: https://www.intimissimi.com.br/bruna-marquezine

REFERÊNCIAS

https://direito.mppr.mp.br/arquivos/File/categoriautilanalisehistorica.pdf

https://www.scielo.br/j/cpa/a/9qWCTLfW8Qvr9bTspS9dSsd/?lang=pt&format=pdf

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Esse projeto integrador tem como proposta repensar os estereótipos que aprisionam a diversidade da sociedade