Comunicação Moderna

Oficina
comunicacaoinclusiva
6 min readAug 27, 2021

Por: Luana Lidiaque / Orientadora: Profª. Drª. Mirtes de Moraes Correa

Fonte: Pixabay

RESUMO

Gênero é uma pauta muito discutida até os dias de hoje. Ao tratar sobre esse assunto é importante analisar como o assunto sofreu mudanças ao longo das décadas e como as propagandas tiveram influência dentro cenário apresentado. Para realização do paper, foram analisados alguns artigos e obras de autores como: Joan Scott, Karyne Mariano Lira Correia, Elizeu Borloti e Amy Poehler. A partir das análises realizadas, foi possível perceber que a forma com as quais as propagandas abordavam as imagens de feminino e masculino influenciam muito em como a sociedade é vista e a importância de analisar se são adequadas ou não.

Palavras-chave: Publicidade e Propaganda. Gênero. Moxie.

A palavra gênero é muito utilizada, principalmente na hora de tratar sobre os assuntos igualdade de gênero, identidade de gênero, ideologia de gênero, entre outras. Mas na maioria das vezes muitos que falam sobre esses assuntos citados, sequer sabem o que significa a palavra gênero.

De acordo com a historiadora norte-americana Joan Scott, “(…) tem duas partes e diversas subpartes. Elas são ligadas entre si, mas deveriam ser distinguidas na análise. O núcleo essencial da definição repousa sobre a relação fundamental entre duas proposições: gênero é um elemento constitutivo das relações sociais, baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e mais, o gênero é uma forma primeira de dar significado às relações de poder (SCOTT, 1994:13)”, em outras palavras, gênero é algo ligado às construções sociais. Por conta disto, muitos dos comportamentos e pensamentos que se espera de homens e mulheres são julgados e criticados, até os dias de hoje.

Há muitos anos, era considerado como “normal” que mulheres fossem limitadas a algumas tarefas e escolhas de vida, enquanto os homens em sua maioria poderiam fazer e ser o que quisessem sem serem julgados ou questionados. Por muito tempo, foi estipulado pela sociedade que as mulheres fossem perfeitas donas de casa, isso significava que elas deveriam ter o corpo perfeito (não gordas e nem magras demais, cabelos bem cuidados e hidratados, e se tornassem mães/esposas), feitas para cuidarem das tarefas domésticas. No entanto, os homens eram vistos como maquinas de sexo, ganhar de dinheiro e fortes.

Durante longas décadas, esse padrão foi aceito pela sociedade o que fazia com que muitos se sentissem incomodados com seus corpos e estilos de vida, na maioria eram mulheres que não se achavam lindas, que se achavam inútil por não serem capazes de terem filhos e sem futuro por não encontrarem maridos. Em decorrência disso, vários estudos como o de Karyne Mariano Lira Correia & Elizeu Borloti (2001) “Mulheres e depressão”, apontam um alto índice de depressão em mulheres, isso por não conseguirem atingir as expectativas da sociedade.

Devido a esses tipos de padrões e expectativas, não se pode deixar de fora o papel que as propagandas e publicidades tiveram nesse contexto. Marcas e produtos idealizam as mulheres e os corpos perfeitos, ocasionando na insatisfação e frustração de milhares de mulheres, além de apresentar exatamente o que era estar fora do padrão, o que resultava em um monte de moças infelizes consigo mesmas.

Apesar de as mulheres serem as mais afetadas pelos padrões esperados pela sociedade, os homens também sofreram por não serem ‘machos’ suficientes. Nem sempre os homens são fortes e sem sentimentos, como a sociedade espera e são nesses momentos que são criticados, quando se mostram vulneráveis e dependentes. Assim como as mulheres, isso pode afetar os homens física e mentalmente.

Um fato conhecido é de que o índice de suicídios é maior em homens, decorrente a não buscarem ajuda quando estão com problemas, já que isso indicaria um sinal de fraqueza, além de abalar sua masculinidade. Essa imagem de homem auto-suficiente e inabalável ainda é mantida por muitos nos dias de hoje, por muitas marcas e empresas, o que agrava ainda mais esse quadro.

Com a evolução da sociedade e dos estereótipos, hoje os canais de comunicação aparecem muito mais envolvidos com a causa de empoderamento da mulher e sensibilidade dos homens. Um exemplo seria o novo filme da atriz, diretora, produtora e escritora Amy Poehler, ‘Moxie’ disponível na plataforma de streaming Netflix. O filme trata sobre uma adolescente tímida, mas que inspirada pelo passado rebelde da mãe e a confiança das novas amigas, começa anonimamente um clube feminista na sua escola.

No filme a atriz principal, Vivian, precisa responder uma pergunta para a universidade que deseja entrar, sobre uma causa que ela é apaixonada. Uma aluna nova ‘Lucy” que acaba de chegar na escola é intimidada é assediada pelo capitão do time de futebol americano ‘Mitchell”, ao relatar para a diretora o acontecimento, Lucy é instruída a ficar de cabeça baixa e aceitar o comportamento de Mitchell. Em seguida, durante uma pronunciação no ginásio, é liberada uma lista que é feita anualmente, que contém nomes de garotas em várias categorias inapropriadas. Neste momento Vivian se sente na obrigação de fazer algo a respeito e sabendo que não conseguiria fazer pessoalmente, cria uma revista com assuntos e citações de como esses comportamentos que acontecem na sua escola não devem ser aceitos.

No decorrer do filme, mostra que a ideia é aceita por mais meninas e com isso, é fundado o grupo moxie. O grupo toma atitudes que questionam e opõe ao que está acontecendo na escola, a primeira atitude é desenhar corações e estrelas em sinal de apoio ao grupo, o segundo é se vestirem usando cropped de alça, relutando o código de vestimenta que se aplica apenas às meninas e não aos meninos, em seguida indicam a capitã do time de futebol para concorrer a uma bolsa de estudos esportiva contra Mitchell, e como última ação do grupo é um protesto em frente a escola a favor de uma aluna que foi estuprada por um dos alunos.

Ao assistir o filme o telespectador se depara com uma série de assuntos e questões que as mulheres passam e vivem todos os dias, mas não apenas a ideia do “girl power” é abordada, mas também, o tipo de homem que se é considerado correto, ao mostrar o capitão do time de futebol americano, como um personagem ruim, que se considera superior, intimidador e machista, também existe o personagem que apoia a causa das mulheres, sem masculinidade frágil e seguro de si. A presença desses dois personagens é fundamental para compreensão dos tipos de homem que podem existir numa mesma sociedade.

Principalmente por nos dias de hoje se acreditar que mulheres e homens não devem ser analisados por padrões, nem esteriótipos, é importante que existam essas formas de comunicação que mostram que ambos podem ser como quiserem.

Outro meio de comunicação que é importante para a alteração da imagem de pessoas perfeitas e idealizadas, seria mudar a imagem de família perfeita, que seria apenas casais heteros, com filhos. Essa imagem que é frequentemente vista em vários comerciais de TV, está ultrapassada e não representa a realidade de todos. Muitas famílias atualmente são compostas por mães ou pais solos, duas mães ou dois pais, sem contar que há crianças que são criadas pelos avós.

Criar uma comunicação mais inclusiva, é reconhecer que todas as famílias são diferentes umas das outras, e que homens e mulheres não atendem aos estereótipos que a sociedade tenta impor e determinar para a população. A função da comunicação seria conscientizar sobre o mundo que vivemos hoje, que não existem pessoas perfeitas e idealizadas, mas sim pessoas reais com problemas reais, pesos e alturas diferentes.

Acredito que se adotado por marcas e empresas um tipo de comunicação que inclua pessoas reais e suas batalhas do cotidiano, seria considerada mais relevante e atingiria mais camadas da sociedade, já que provocaria um tipo de reconhecimento com a imagem passada pela marca e faria com que a sociedade sofresse menos com as expectativas que deveriam atingir, assim se aceitando e sentindo-se incluídos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SCOTT, Joan W. Preface a gender and politics of history. Cadernos Pagu, nº. 3, Campinas/SP 1994.

TORRÃO FILHO, Amílcar. Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam. cadernos pagu, n. 24, p. 127–152, 2005.

CORREIA, Karyne Mariano Lira; BORLOTI, Elizeu. Mulher e depressão: uma análise comportamental-contextual. Acta Comportamentalia: Revista Latina de Análisis de Comportamiento, v. 19, n. 3, p. 359–373, 2011.

--

--

Oficina
comunicacaoinclusiva
0 Followers

Esse projeto integrador tem como proposta repensar os estereótipos que aprisionam a diversidade da sociedade