“Moxie: Quando as garotas vão à luta”: o feminismo para os jovens

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8 min readAug 27, 2021

Por: Laura Regina Faia Sousa / Orientadora: Profª. Drª. Mirtes de Moraes Correa

RESUMO

O filme “Moxie: Quando as garotas vão à luta”, foi lançado em 2021 pela plataforma de streaming Netflix. O filme tem uma ampla representatividade, incluindo pessoas com deficiências, pretas e LGBTQIA+. O principal assunto tratado no filme é o machismo que ocorre em uma escola estadunidense, e como um panfleto feminista, conseguiria transformá-la. Também fala sobre estereótipos, e em grande parte, combate-os. Ao lançar o filme, a diretora Amy Poehler conseguiu distribuir em grande escala, um filme sobre patriarcado e sobre como o feminismo pode tornar nossa sociedade mais justa.

Palavras Chaves: Feminismo, Machismo, Representatividade, Estereótipos.

Fonte: Verus Editora / Capa do Livro “Moxie”

As meninas que tem “Moxie”

Baseado no livro escrito pela autora Jennifer Mathieu, o filme “Moxie: Quando as garotas vão à luta” foi lançado na plataforma de streaming Netflix no dia 3 de março de 2021, com o mesmo nome do livro. Dirigido e estrelado por Amy Poehler, o filme conta a história de Vivian, uma menina que inspirada pelo passado de sua mãe e pela menina nova da escola, decide criar um panfleto com o nome Moxie, palavra que significa coragem, que iria desencadear protestos contra o sexismo e o machismo que ocorria em sua escola.

Contando com o elenco de Hadley Robinson como Vivian Carter, Lauren Tsai como Claudia, Alycia Pascual-Peña como Lucy Hernandez, Nico Hiraga como Seth Acosta, Patrick Schwarzenegger como Mitchell Wilson, Amy Poehler como Lisa e muitos outros atores, a história é considerada uma maneira simples e juvenil de discutir assuntos como machismo, feminismo, preconceito de gênero e estereótipos nos 101 minutos de duração do filme

Além de tratar sobre feminismo no filme, algo muito importante de ser notado é como a atriz Amy Poehler (que é conhecida principalmente pelo seu trabalho em “Confusões de Leslie”) além de atuar, dirigiu o filme. No ano de 2021 tivemos uma grande conquista da primeira mulher oriental a ganhar o Oscar, mostrando assim que cada vez mais as mulheres estão ganhando o merecido lugar de destaque que muitas vezes foi negado a elas.

Figura 2: Grupo inicial que apoiava o panfleto Moxie

Moxie além de ser um filme sobre feminismo, tem o intuito de mostrar que o feminismo é para todas as mulheres. A representatividade de mulheres negras, de mulheres orientais, de mulheres latinas, de mulheres da comunidade LGBTQIA+ e de mulheres com deficiência representa grande parte das personagens principais, que são as primeiras a acompanhar a campanha da anônima Moxie e representarem seu apoio ao desenharem estrelas e corações nas costas de suas mãos, como sugerido no panfleto.

Com a proposta feminista contra o machismo e o sexismo que acontecia na escola, o longa metragem tem a intenção de quebrar estereótipos como de que meninos devem ser fortes e provedores, e que meninas não passam de objetos de desejo masculino. Condições que são fortemente representadas no começo do filme, onde a escola acompanha uma lista que rótula a maior parte dos alunos e lista-os em categorias como “menina mais gostosa” e “melhor bunda da escola”.

A personagem Kiera Pascal, é capitã do time de futebol feminino e representa uma das quebras de preconceitos, onde ela acumula mais vitórias do que o time de futebol americano masculino; porém seu time não recebe a devida atenção e não consegue uniformes novos por um período de tempo muito longo, mostrando como as pequenas conquistas masculinas eram endeusadas e as femininas caiam no esquecimento.

Infelizmente um estereótipo que ainda é presente no filme é sobre famílias orientais, enfatizando que são muito conservadoras, rígidas, se importam muito com a honra que seus filhos trazem para a família e também são sempre os personagens mais inteligentes. A personagem Claudia é de uma família asiática e tenta participar de uma das ações do filme, onde todas as meninas iriam usar regatas para protestar o código de vestimenta que era muito mais rígido para as alunas do que para os alunos. Ao sair de seu quarto com a regata, Claudia aparece de cabeça baixa, prevendo que sua mãe não ficaria feliz com sua vestimenta, exatamente o que acontece e ela se vê obrigada a mudar de roupa.

Figura 3: Claudia com receio de sua mãe não aprovar sua blusa

Um dos primeiros momentos no filme, onde podemos ver o questionamento do machismo é quando a personagem Lucy, questiona o sistema de ensino da escola dela. Grande parte do conhecimento que é ensinado na escola foi criado e escrito por homens brancos, assim a aluna questiona o professor por que eles não aprendem sobre outros temas que têm uma importância tão grande como imigrantes, o proletariado, mulheres e também sobre mães negras. Porém o seu comentário é ignorado pelo professor que não tinha uma resposta, e pelo aluno Mitchell que retruca que esse conhecimento é ensinado por anos e consequentemente deve ter uma grande importância para a formação acadêmica dos alunos. Da mesma maneira, a historiadora Joan Scott analisa que muitas vezes, as histórias masculinas e femininas são separadas ao serem estudadas, e consequentemente são consideradas inferiores e podem acabar não entrando na matriz curricular de muitas escolas.

Para os/as historiadores/as das mulheres, não tem sido suficiente provar que as mulheres tiveram uma história, ou que as mulheres participaram das principais revoltas políticas da civilização ocidental. A reação da maioria dos/as historiadores/as não feministas foi o reconhecimento da história das mulheres e, em seguida, seu confinamento ou relegação a um domínio separado (“as mulheres tiveram uma história separada da dos homens, em conseqüência deixemos as feministas fazer a história das mulheres que não nos diz respeito”; ou “a história das mulheres diz respeito ao sexo e à família e deve ser feita separadamente da história política e econômica”).(SCOTT, 1990, p.74)

Outra forma de machismo é o “Mansplaining”, um termo que ficou conhecido no Brasil em 2018 para 2019, tal palavra que tem como significado explicar algo a uma mulher de uma maneira confiante e simples, como se fosse algo complicado de compreender para essa pessoa. Na metragem 00:11:03, temos uma cena onde podemos observar tal comportamento, porém a personagem Lisa trata com ironia a ação do empacotador do mercado, que tenta ensiná-la como posicionar suas compras dentro da sacola, pois muitas vezes por medo da reação da outra pessoa, mulheres acabam tratando ofensas como humor.

Figura 4: Jason e Mitchell conversando sobre as meninas da escola

Um dos problemas gerados pelo machismo, é a figura de homens que devem ser fortes e que consequentemente quando não conseguem o que desejam, utilizam essa força para conseguirem. O personagem Mitchell é a maior representação do machismo na escola, junto com seu colega Jason eles são representados como estrelas e como homens fortes que praticam esportes, ainda que não ganhem jogos. Mitchell ao se irritar com Lucy, utiliza dessa posição imposta e cospe dentro da lata de refrigerante da menina, para mostrar que ele mandava na escola.

Figura 5: Vivian criando o primeiro panfleto Moxie

Analisando a cena em que Mitchell cospe na lata de refrigerante de Lucy, a personagem principal Vivian, como primeiro instinto conversa com a menina e explica que o jogador de futebol sempre tinha sido assim, e por isso ela não deveria se preocupar, desta maneira, o filme mostra como muitas meninas acabam se acostumando com comportamentos machistas e tóxicos a ponto de não saber diferenciá-los de simples brincadeiras. A partir do momento em que Lucy explica para Vivian que não era ela que deveria aceitar o comportamento do menino, mas sim, ele que deveria mudar, a cabeça da personagem principal é completamente mudada. Esse acontecimento, o passado feminista de sua mãe e a lista que categoriza várias meninas da escola, faz com que ela crie o Moxie.

Figura 6: Emma contando que foi estuprado para os alunos da escola

Além de todos os problemas com os meninos que acontecerem dentro da escola, temos na posição de diretora uma mulher que diminui os problemas femininos. A diretora Marlene Shelly interpretada por Marcia Gay Harden, tenta redirecionar os problemas de Lucy, incentivando-a a realizar uma atividade extracurricular, para não ter que lidar com toda a papelada de um assédio. Esse comportamento acaba gerando um problema muito maior, já que mais no final do filme descobrimos que a aluna Emma Cunningham, interpretada por Josephine Langford, havia sido estuprada por Mitchell, mas tinha vergonha do ocorrido e demorou muito para poder compartilhar. Podemos ver Emma agoniada em algumas partes do filme, rondando o grupo que apoiava Moxie, mas sempre tendo muito medo de se juntar a elas.

Figura 7: Seth invertendo os papeis, ao dizer que ele “pertencia” à Vivian

Em oposição ao machismo que ocorre na escola, temos o feminismo e a quebra de padrão que o grupo que apoia Moxie proporciona. Mas um personagem muito importante para toda a luta social que estava acontecendo, é a aluno Seth que quebra todos os padrões masculinos, e que ao longo de todos os protestos promovidos pelo panfleto Moxie faz parte do movimento. Uma característica importante do personagem, é o fato dele ter mulheres em papéis importantes na sua vida e o fato dele assim conseguir respeitar as meninas com as quais convive. Isso mostra como é importante para uma sociedade, colocar pessoas com visões e experiências diferentes em papeis de destaque, para que todos os seres humanos sejam representados e tenham suas versões da história ouvidas.

Figura 8: Vivian finalmente conseguindo se expressar

A primeira cena do filme, mostra Vivian correndo em uma floresta e tentando gritar, porém nenhum som sai, após todos os protestos do Moxie, de aliviar sua cabeça de seus problemas e ajudar as meninas da escola, finalmente Vivian se faz ouvida e ao gritar novamente na floresta, sua voz ecoa. Essa cena mostra, que toda a mudança e todo o crescimento como pessoa e mulher valeu a pena e que ela finalmente tinha conseguido ser ouvida, e que graças ao seu panfleto finalmente homens como Mitchell sofreriam punições por seus atos, quebrando totalmente o estereótipo de que mulheres não devem mostrar opiniões ou até mesmo imperfeições.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Autor desconhecido. Chloé Zhao vence Oscar e Marvel ganha sua primeira diretora ganhadora de Oscar. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/oscar/2021/noticia/2021/04/26/chloe-zhao-vence-oscar-e-marvel-ganha-sua-primeira-diretora-ganhadora-de-oscar.ghtml. Acesso em: 12 mai. 2021.

Autor desconhecido. Mansplaining. 2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mansplaining. Acesso em: 14 mai. 2021

Autor desconhecido. Moxie (filme). 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Moxie_(filme). Acesso em: 13 mai. 2021

ESPINDOLA, Stephanie. CRÍTICA — Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta (2021, Amy Poehler). 2021. Disponível em: https://feededigno.com.br/filmes/critica-moxie-quando-as-garotas-vao-a-luta-2021-amy-poehler/. Acesso em: 12 mai. 2021.

MOXIE: Quando as garotas vão à luta. Amy Poehler. Estados Unidos: Paper Kite Productions, 2021. Disponível no serviço de streaming “Netflix”.

SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação & Realidade, v.15, n.2, jul/dez. 1990 (p.71–99).

SOUSA, Camila. Filme da Netflix, Moxie traz discussão do feminismo para as novas gerações. 2021. Disponível em: https://www.omelete.com.br/netflix/criticas/moxie-quando-as-garotas-vao-a-luta-critica. Acesso em: 13 mai. 2021.

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