“Moxie: Quando as garotas vão à luta”: o feminismo para os jovens
Por: Laura Regina Faia Sousa / Orientadora: Profª. Drª. Mirtes de Moraes Correa
RESUMO
O filme “Moxie: Quando as garotas vão à luta”, foi lançado em 2021 pela plataforma de streaming Netflix. O filme tem uma ampla representatividade, incluindo pessoas com deficiências, pretas e LGBTQIA+. O principal assunto tratado no filme é o machismo que ocorre em uma escola estadunidense, e como um panfleto feminista, conseguiria transformá-la. Também fala sobre estereótipos, e em grande parte, combate-os. Ao lançar o filme, a diretora Amy Poehler conseguiu distribuir em grande escala, um filme sobre patriarcado e sobre como o feminismo pode tornar nossa sociedade mais justa.
Palavras Chaves: Feminismo, Machismo, Representatividade, Estereótipos.
As meninas que tem “Moxie”
Baseado no livro escrito pela autora Jennifer Mathieu, o filme “Moxie: Quando as garotas vão à luta” foi lançado na plataforma de streaming Netflix no dia 3 de março de 2021, com o mesmo nome do livro. Dirigido e estrelado por Amy Poehler, o filme conta a história de Vivian, uma menina que inspirada pelo passado de sua mãe e pela menina nova da escola, decide criar um panfleto com o nome Moxie, palavra que significa coragem, que iria desencadear protestos contra o sexismo e o machismo que ocorria em sua escola.
Contando com o elenco de Hadley Robinson como Vivian Carter, Lauren Tsai como Claudia, Alycia Pascual-Peña como Lucy Hernandez, Nico Hiraga como Seth Acosta, Patrick Schwarzenegger como Mitchell Wilson, Amy Poehler como Lisa e muitos outros atores, a história é considerada uma maneira simples e juvenil de discutir assuntos como machismo, feminismo, preconceito de gênero e estereótipos nos 101 minutos de duração do filme
Além de tratar sobre feminismo no filme, algo muito importante de ser notado é como a atriz Amy Poehler (que é conhecida principalmente pelo seu trabalho em “Confusões de Leslie”) além de atuar, dirigiu o filme. No ano de 2021 tivemos uma grande conquista da primeira mulher oriental a ganhar o Oscar, mostrando assim que cada vez mais as mulheres estão ganhando o merecido lugar de destaque que muitas vezes foi negado a elas.
Moxie além de ser um filme sobre feminismo, tem o intuito de mostrar que o feminismo é para todas as mulheres. A representatividade de mulheres negras, de mulheres orientais, de mulheres latinas, de mulheres da comunidade LGBTQIA+ e de mulheres com deficiência representa grande parte das personagens principais, que são as primeiras a acompanhar a campanha da anônima Moxie e representarem seu apoio ao desenharem estrelas e corações nas costas de suas mãos, como sugerido no panfleto.
Com a proposta feminista contra o machismo e o sexismo que acontecia na escola, o longa metragem tem a intenção de quebrar estereótipos como de que meninos devem ser fortes e provedores, e que meninas não passam de objetos de desejo masculino. Condições que são fortemente representadas no começo do filme, onde a escola acompanha uma lista que rótula a maior parte dos alunos e lista-os em categorias como “menina mais gostosa” e “melhor bunda da escola”.
A personagem Kiera Pascal, é capitã do time de futebol feminino e representa uma das quebras de preconceitos, onde ela acumula mais vitórias do que o time de futebol americano masculino; porém seu time não recebe a devida atenção e não consegue uniformes novos por um período de tempo muito longo, mostrando como as pequenas conquistas masculinas eram endeusadas e as femininas caiam no esquecimento.
Infelizmente um estereótipo que ainda é presente no filme é sobre famílias orientais, enfatizando que são muito conservadoras, rígidas, se importam muito com a honra que seus filhos trazem para a família e também são sempre os personagens mais inteligentes. A personagem Claudia é de uma família asiática e tenta participar de uma das ações do filme, onde todas as meninas iriam usar regatas para protestar o código de vestimenta que era muito mais rígido para as alunas do que para os alunos. Ao sair de seu quarto com a regata, Claudia aparece de cabeça baixa, prevendo que sua mãe não ficaria feliz com sua vestimenta, exatamente o que acontece e ela se vê obrigada a mudar de roupa.
Um dos primeiros momentos no filme, onde podemos ver o questionamento do machismo é quando a personagem Lucy, questiona o sistema de ensino da escola dela. Grande parte do conhecimento que é ensinado na escola foi criado e escrito por homens brancos, assim a aluna questiona o professor por que eles não aprendem sobre outros temas que têm uma importância tão grande como imigrantes, o proletariado, mulheres e também sobre mães negras. Porém o seu comentário é ignorado pelo professor que não tinha uma resposta, e pelo aluno Mitchell que retruca que esse conhecimento é ensinado por anos e consequentemente deve ter uma grande importância para a formação acadêmica dos alunos. Da mesma maneira, a historiadora Joan Scott analisa que muitas vezes, as histórias masculinas e femininas são separadas ao serem estudadas, e consequentemente são consideradas inferiores e podem acabar não entrando na matriz curricular de muitas escolas.
Para os/as historiadores/as das mulheres, não tem sido suficiente provar que as mulheres tiveram uma história, ou que as mulheres participaram das principais revoltas políticas da civilização ocidental. A reação da maioria dos/as historiadores/as não feministas foi o reconhecimento da história das mulheres e, em seguida, seu confinamento ou relegação a um domínio separado (“as mulheres tiveram uma história separada da dos homens, em conseqüência deixemos as feministas fazer a história das mulheres que não nos diz respeito”; ou “a história das mulheres diz respeito ao sexo e à família e deve ser feita separadamente da história política e econômica”).(SCOTT, 1990, p.74)
Outra forma de machismo é o “Mansplaining”, um termo que ficou conhecido no Brasil em 2018 para 2019, tal palavra que tem como significado explicar algo a uma mulher de uma maneira confiante e simples, como se fosse algo complicado de compreender para essa pessoa. Na metragem 00:11:03, temos uma cena onde podemos observar tal comportamento, porém a personagem Lisa trata com ironia a ação do empacotador do mercado, que tenta ensiná-la como posicionar suas compras dentro da sacola, pois muitas vezes por medo da reação da outra pessoa, mulheres acabam tratando ofensas como humor.
Um dos problemas gerados pelo machismo, é a figura de homens que devem ser fortes e que consequentemente quando não conseguem o que desejam, utilizam essa força para conseguirem. O personagem Mitchell é a maior representação do machismo na escola, junto com seu colega Jason eles são representados como estrelas e como homens fortes que praticam esportes, ainda que não ganhem jogos. Mitchell ao se irritar com Lucy, utiliza dessa posição imposta e cospe dentro da lata de refrigerante da menina, para mostrar que ele mandava na escola.
Analisando a cena em que Mitchell cospe na lata de refrigerante de Lucy, a personagem principal Vivian, como primeiro instinto conversa com a menina e explica que o jogador de futebol sempre tinha sido assim, e por isso ela não deveria se preocupar, desta maneira, o filme mostra como muitas meninas acabam se acostumando com comportamentos machistas e tóxicos a ponto de não saber diferenciá-los de simples brincadeiras. A partir do momento em que Lucy explica para Vivian que não era ela que deveria aceitar o comportamento do menino, mas sim, ele que deveria mudar, a cabeça da personagem principal é completamente mudada. Esse acontecimento, o passado feminista de sua mãe e a lista que categoriza várias meninas da escola, faz com que ela crie o Moxie.
Além de todos os problemas com os meninos que acontecerem dentro da escola, temos na posição de diretora uma mulher que diminui os problemas femininos. A diretora Marlene Shelly interpretada por Marcia Gay Harden, tenta redirecionar os problemas de Lucy, incentivando-a a realizar uma atividade extracurricular, para não ter que lidar com toda a papelada de um assédio. Esse comportamento acaba gerando um problema muito maior, já que mais no final do filme descobrimos que a aluna Emma Cunningham, interpretada por Josephine Langford, havia sido estuprada por Mitchell, mas tinha vergonha do ocorrido e demorou muito para poder compartilhar. Podemos ver Emma agoniada em algumas partes do filme, rondando o grupo que apoiava Moxie, mas sempre tendo muito medo de se juntar a elas.
Em oposição ao machismo que ocorre na escola, temos o feminismo e a quebra de padrão que o grupo que apoia Moxie proporciona. Mas um personagem muito importante para toda a luta social que estava acontecendo, é a aluno Seth que quebra todos os padrões masculinos, e que ao longo de todos os protestos promovidos pelo panfleto Moxie faz parte do movimento. Uma característica importante do personagem, é o fato dele ter mulheres em papéis importantes na sua vida e o fato dele assim conseguir respeitar as meninas com as quais convive. Isso mostra como é importante para uma sociedade, colocar pessoas com visões e experiências diferentes em papeis de destaque, para que todos os seres humanos sejam representados e tenham suas versões da história ouvidas.
A primeira cena do filme, mostra Vivian correndo em uma floresta e tentando gritar, porém nenhum som sai, após todos os protestos do Moxie, de aliviar sua cabeça de seus problemas e ajudar as meninas da escola, finalmente Vivian se faz ouvida e ao gritar novamente na floresta, sua voz ecoa. Essa cena mostra, que toda a mudança e todo o crescimento como pessoa e mulher valeu a pena e que ela finalmente tinha conseguido ser ouvida, e que graças ao seu panfleto finalmente homens como Mitchell sofreriam punições por seus atos, quebrando totalmente o estereótipo de que mulheres não devem mostrar opiniões ou até mesmo imperfeições.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Autor desconhecido. Chloé Zhao vence Oscar e Marvel ganha sua primeira diretora ganhadora de Oscar. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/oscar/2021/noticia/2021/04/26/chloe-zhao-vence-oscar-e-marvel-ganha-sua-primeira-diretora-ganhadora-de-oscar.ghtml. Acesso em: 12 mai. 2021.
Autor desconhecido. Mansplaining. 2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mansplaining. Acesso em: 14 mai. 2021
Autor desconhecido. Moxie (filme). 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Moxie_(filme). Acesso em: 13 mai. 2021
ESPINDOLA, Stephanie. CRÍTICA — Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta (2021, Amy Poehler). 2021. Disponível em: https://feededigno.com.br/filmes/critica-moxie-quando-as-garotas-vao-a-luta-2021-amy-poehler/. Acesso em: 12 mai. 2021.
MOXIE: Quando as garotas vão à luta. Amy Poehler. Estados Unidos: Paper Kite Productions, 2021. Disponível no serviço de streaming “Netflix”.
SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação & Realidade, v.15, n.2, jul/dez. 1990 (p.71–99).
SOUSA, Camila. Filme da Netflix, Moxie traz discussão do feminismo para as novas gerações. 2021. Disponível em: https://www.omelete.com.br/netflix/criticas/moxie-quando-as-garotas-vao-a-luta-critica. Acesso em: 13 mai. 2021.