O machismo na campanha de carnaval da Skol de 2015

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4 min readAug 27, 2021

Por: Leticia Rosa / Orientadora: Profª. Drª. Mirtes de Moraes Correa

RESUMO

O paper irá abordar uma campanha da Skol feita em 2015 e que foi alvo de muita polêmica por atrelar frases machistas em seu conteúdo. A objetificação das mulheres nas peças foi duramente criticada, porque no Brasil é visto amplamente o assédio por parte dos homens, principalmente na época do Carnaval, festa tradicional brasileira, que há um pensamento errôneo de que se pode fazer o que quiser durante esses dias. Um período onde os desejos da carne estão a flor da pele, mas isso deve ter sempre um ponderamento individual que respeite a todos.

Palavras-chave: Carnaval. Machismo. Assédio.

1 INTRODUÇÃO

Esse trabalho abordará o machismo contido nas propagandas da marca de cerveja, Skol, especificamente na sua campanha de carnaval de 2015. As peças desenvolvidas foram alvo de fortes críticas por conta de até mesmo incentivar o assédio contra as mulheres. Esse grupo sofre rotineiramente esses tipos de impertinências e na época da festa brasileira em questão, isso é cada vez mais visto e costuma ser tratado com naturalidade. Isso se deve porque, por ser uma festa bem carnal, muitos pensam que todos devem ter relações com que quiser. Entretanto, isso é totalmente errado a partir do momento em que um indivíduo não quer e o outro utiliza de força e insistência para se tornar possível. Dessa maneira, uma parcela da população geralmente diz ser “mimimi”, irrelevante, quando acontecimentos assim são denunciados e por isso, é importante falar sobre isso para gerar conscientização.

O objetivo geral deste trabalho é identificar o machismo contido nas peças publicitárias da marca Skol. A partir disso, é necessário gerar reflexão a respeito do porque propagandas assim são tão danosas para o grupo alvo do assédio e, porque não comportamentos como o da campanha não devem ser normalizados. Assim, o cenário carnavalesco pode ser divertido, mas também pode ser perigoso para alguns grupos e se faz necessário abordar esse tema.

O propósito deste estudo é apontar o incentivo ao assédio às mulheres de uma peça em específico, justificar o porquê disso ser errado na contribuição para uma sociedade justa para todos e como o posicionamento dessa empresa diante desse cenário pode manchar a marca vinculada aos produtos.

2 DESENVOLVIMENTO

Abaixo, podemos observar a peça publicitária que será usada para o estudo:

Fonte: Facebook

Essa imagem contém duas fotos que foram postadas em redes sociais como uma forma de protesto contra a campanha da Skol. Nas fotografias podemos ver o OOH (Out of home) já pichado por alguém que não gostou do teor da propaganda e duas mulheres com o dedo do meio levantado, que indica discordância.

A peça foi duramente criticada porque diz de maneira explicitada que no carnaval não existe a negação ao pedido para relações sexuais com outro indivíduo, ou seja, tudo deverá ser aceite mesmo que uma das partes não queira. Com isso, a marca se posiciona erroneamente dizendo que o consentimento não é importante e faz apologia ao estupro. Uma ação como essa, além de influenciar que mais crimes sexuais existam e também a marca é descredibilizada. Isso se deve, porque hoje é necessário ter um marketing humanizado que se conecte e respeite o consumidor. Com isso, Vera Lucia Rodrigues, fundadora da Vervi Assessoria de Comunicação, diz que: “Ponto de partida é o indivíduo e o de chegada também”, essa frase diz muito a respeito da relação com o público.

A Catraca Livre noticiou que durante o Carnaval no ano de 2018, no estado de São Paulo, houve uma média de 81 casos de assédio por dia, totalizando 571 crimes. Vale ressaltar, que nem todos os crimes de assédio, estupro e atos obscenos são registrados e acabam sendo invisibilizados.

Além disso, segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública de São Paulo (SSP), no ano de 2017 e 2018, no estado de São Paulo, houve mais casos de estupro de vulneráveis, menores de 14 anos, durante o Carnaval. Portanto, podemos notar que todas as mulheres sofrem com a situação normalizada, porém principalmente as meninas mais novas ficam mais desamparadas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A empresa que teve a peça publicitária como alvo de críticas e polêmicas tentou consertar o posicionamento atrelado apostando em novas propagandas com o mesmo visual da primeira, como podemos ver abaixo:

Fonte: Campanha Skol — 2015

Essa categoria de afirmações deveriam ser feitas desde de o início da campanha carnavalesca, para não ampliar mensagens machistas e nem influenciar atos criminosos principalmente contra as mulheres e outros grupos minoritários. As marcas devem ser conscientes ao planejar e desenvolver suas campanhas, sempre lembrando que as propagandas podem trazer efeitos negativos na vida de alguns indivíduos.

Portanto, salienta-se que, um marketing humanizado deve vincular além de linguagem que gere proximidade, também os valores que a empresa acredita e se posicione a favor e que não desrespeite o seu público.

REFERÊNCIAS

PETRAGLIA, Alessandra. Dados sobre o assédio no Carnaval mostram parte da realidade. 2019. Disponível em: https://catracalivre.com.br/carnaval-sem-assedio/dados-sobre-o-assedio-no-carnaval-mostram-parte-da-realidade/. Acesso em: 17 maio 2021.

RODRIGUES, Vera Lucia. Porque precisamos de uma comunicação humanizada. 2020. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/home/opiniao/2020/12/09/porque-precisamos-de-uma-comunicacao-humanizada.html. Acesso em: 17 maio 2020.

SKOL: Esqueci o não em casa. 2016. Disponível em: https://medium.com/observat%C3%B3rio-do-discurso-midi%C3%A1tico/skol-esqueci-o-n%C3%A3o-em-casa-50c39670d047. Acesso em: 17 maio 2021.

SKOL irá trocar campanha após acusação de ‘apologia ao estupro’. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2015/02/acusada-de-apologia-ao-estupro-skol-ira-trocar-frases-de-campanha.html. Acesso em: 15 maio 2021.

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