Um Grito de Liberdade: análise baseada na série da Netflix “Coisa Mais Linda”
Por: Beatriz Duprat e Letícia Pedreira / Orientadora: Profª. Drª. Mirtes de Moraes Correa
RESUMO
O patriarcado é uma realidade da sociedade contemporânea. A mulher vive nas sombras do machismo e da sua objetificação, lutando até hoje para ser reconhecida e se sentir presente como membro individual de uma sociedade. A série Coisa Mais Linda aborda muito esse tema, e nesse paper será abordada a relação e semelhanças de uma trama, que retrata os anos 50, com a atualidade.
Palavras-chave: Patriarcado; Sociedade; Mulher; Machismo; Objetificação; Atualidade.
INTRODUÇÃO
“Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade. Um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher.” (Coisa Mais Linda).
O que é ser mulher? É carregar consigo o medo de expressar a sua opinião e parecer louca, é ter medo de se posicionar e parecer sentimental demais, é carregar consigo a aflição de andar sozinha na rua a noite ou até mesmo de dia, é carregar no peito a vontade de gritar e muitas vezes se calar pois, ser mulher é carregar o medo.
Vivemos em uma sociedade que ser mulher exige coragem, que ser mulher demanda pulso firme, que ser mulher é enfrentar os demônios e fantasmas presentes desde os primórdios do patriarcado da sociedade.
DESENVOLVIMENTO
Coisa Linda é uma série da Netflix, que fala sobre a quebra do paradigma do domínio e poder do homem na sociedade na década de 50. Que traz duas mulheres, uma branca e uma negra, que passam por diversas situações que demonstram como o homem possuía poder sobre o “elo frágil”, as mulheres. Além disso, a série retrata momentos do despertar da mulher, que incomodam não só os homens, mas outras mulheres que ainda se sentem submissas ao homem durante a série. Thereza, que retrata a mulher mais descontruída da trama, consegue se despertar e as suas amigas aos poucos com muita luta. Criando juntas um elo muito forte de amizade e suporte entre elas e as demais mulheres que ainda estavam presas a essa ideia de que o homem tem todo o poder sobre elas.
Na serie as personagens principais foram capazes de mostrar como o machismo era presente na sociedade, e como elas eram vistas por tentar criar um negócio sem um homem, “Como eu sou mulher eu não posso nem abrir um negócio e nem conseguir um empréstimo, sem a assinatura de um homem.”. Mesmo passando por situações adversas elas não desistiram, e foram capazes de ilustrar o que é ser mulher.
“À construção de atitudes, expectativas e comportamentos tendo por base o que a sociedade atribui como apropriado para o sexo feminino e masculino.” (Joan SCOTT). Durante toda a trama esse é um aspecto bem presente, o fato do que era apropriado ou não as mulheres fazerem. O que era condizente ou não de acordo com a sua posição dentro da sociedade e quem ditava isso eram os homens.
Hoje 70 anos depois, continuamos presas às amarras do passado, o machismo ainda existe, ainda é exigido que mulheres sigam padrões de comportamento, para não serem julgadas. Mas afinal ser mulher é isso, é lutar constantemente para se provar competente, é buscar incessantemente a aprovação de homens, sejam os seus pais, maridos ou amigos. É querer ser reconhecida por quem ela realmente é. Pierre Bourdieu tinha como ideia principal de que um objeto tem um valor simbólico, além de valor de uso e de valor de troca, ele descreve isso como “plano de racionalidade do objeto”, fazendo assim tê-lo uma significação para além do seu uso, de modo que o sistema, antes tecnologicamente coerente deixa de ser. Desta forma é possível perceber que os homens viam e ainda veem as mulheres como um objeto e o seu valor simbólico só vale se elas oferecem algo aos seus maridos sejam prazeres, submissão ou obediência sobre o que eles querem. Como se fosse uma troca, eles se casam com elas, porém para elas terem realmente um valor na sociedade, é preciso satisfazê-los.
“Por trás de um grande homem existe uma grande mulher”, as mulheres de alguma forma continuam escondidas atrás de uma grande presença masculina, estão constantemente na sombra de algum grande homem e “dependem” dele para se tornar uma grande mulher. “Marido feliz vida feliz”, essa é uma frase dita durante a trama, mas que até hoje é atual, pois existem pessoas que nasceram nessa época, e passam esses ensinamentos para os seus filhos, netos e entramos em um ciclo vicioso de um pseudoconhecimento sobre o patriarcado do homem na sociedade.
Os tempos mudaram, desde o início da trama até hoje, mas essa ainda é uma discussão muito presente na sociedade, pois mesmo as mulheres tendo com o tempo se empoderado e terem sido disseminados os conhecimentos sobre o feminismo, muitos homens continuam acreditando na sua superioridade.
Os índices de feminicídio aumentam, as taxas de estupro aumentam, as situações dos maridos e parentes agredirem mulheres é muito atual. Vivemos em uma sociedade que esta doente e cega, que continua seguido padrões preexistentes e que acredita que o sexo é capaz de predeterminar a competência e força.
CONCLUSÃO
É difícil ser mulher, é ainda mais doloroso se saber ser mulher pois é quando nos deparamos com dados e estatísticas alarmantes de como somos tratadas e vistas na sociedade. O grito de liberdade é dado todos os dias, por cada mulher que enfrenta os desprazeres de uma sociedade machista e mesmo assim os enfrenta, para dizer para o mundo o que é ser mulher, e a força que, mesmo muitos não enxergando, carrega dentro do peito.
Se calar hoje não é uma forma de resistência, a resistência é viver num país com o Brasil e se saber ser mulher.
Referências
- BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio De Janeiro, Editora Bertrand Brasil S.A. 1989. Acessado em: 16/05/2021.
- NETFLIX, serie Coisa Mais Linda. Rio de Janeiro, Brasil. 2019. Beto Gauss, Francisco Civita. Acessado em: 16/05/2021
- BlogDreamyGirl. 6 lições sobre a serie Coisa Mais Linda. 15 de julho de 2020. Acessado em 16/05/21. https://www.blogdreamygirl.com/2020/07/6-licoes-sobre-serie-coisa-mais-linda.html
