Como fazemos nossas entrevistas?

A abordagem empática nos oferece a oportunidade de enxergar realidades diferentes da nossa, em toda sua completude

Isadora Dias
Comunicast
4 min readSep 8, 2020

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É evidente o fato de que a entrevista é uma das partes mais importantes de todo o processo construtivo de um podcast. Isso porque é nela que apuramos todas as informações necessárias dos rostos de cada episódio para escrita dos offs que vão compor o roteiro. E, convenhamos que sem elas e os áudios adequadamente editados e amarrados como tais, não há um episódio de podcast narrativo ou do gênero storytelling que consiga ser feito de uma forma atraente. Portanto, é por isso que ela deve ser realizada com planejamento, cautela e com questões precisamente estruturadas, para que assim o trabalho saia de forma esperada.

Diante da atual gama de aparelhos eletrônicos e ferramentas da internet, muitas entrevistas acontecem por telefone ou por aplicativos de mensagem. Em decorrência da pandemia da Covid-19, todas as entrevistas da primeira temporada do Vida em Quarentena foram realizadas pelos celulares de nós participantes. Éramos nós, com auxílio do professor, que entrávamos em contato com as fontes do episódio após a preparação das perguntas. Posso dizer por experiência própria que rabiscava o que tinha em mente para os enfoques do episódio, escrevia as perguntas de acordo e depois as mandava para as fontes, sempre fornecendo as recomendações necessárias para gravação de um áudio de qualidade, as quais incluem um lugar o mais silencioso possível e uso do microfone de seus fones. A qualidade do áudio gera um aspecto de profissionalismo ao conteúdo como um todo.

Além disso, por tratarmos de questões delicadas nos episódios, entre eles o luto, a doença, pessoas em situação de rua, vulnerabilidade social e desassistência governamental, nós sempre buscamos adotar táticas de uma abordagem humanizada e empática durante as entrevistas, não só nelas, como na linguagem usada em todas as nossas produções. Essas questões remetem a um grande sofrimento humano de muitas pessoas devem ser tratadas com muito cuidado e respeito. A abordagem empática nos oferece a oportunidade de enxergar realidades diferentes da nossa, em toda sua completude e sem os preconceitos sociais calcados em nossas mentes.

Outra observação importante, que mentalizei enquanto conversava com as pessoas, era o ato de não realizar perguntas direcionadas a um ponto específico sempre. Com as perguntas "abertas", a probabilidade dos entrevistados de trazer informações inesperadas é bem maior, as quais, inclusive, podem ser interessantes para a elaboração do material. Dessa maneira, você cede um espaço maior para o/a entrevistado/a se expressar com mais intensidade acerca de suas memórias e pontos importantes que ele/a julga necessário serem ditos. Para que haja maior expressão, existe precisão em estabelecer uma relação de confiança para haver conforto em falar o mais abertamente possível sobre tais. Pra isso, é preciso ouvir, ouvir sempre. Se sentindo confortável, a fonte terá mais confiança em ser detalhista no seu depoimento e esse será o aporte de uma história rica, meticulosa e o mais importante, atraente para os ouvintes.

Nas entrevistas dos episódios que apurei, realizava perguntas com as diversas possibilidades de resposta e foi assim que descobri histórias de pessoas fortes e incríveis. Eu sempre acreditei que quando insistimos em coisas específicas durante a entrevista, deixamos de entrar em contato com ótimos relatos, os quais ficam escondidos por algum motivo. Por isso, durante a conversa é sempre importante trazer perguntas não tão focadas em apenas um ponto. Todos temos histórias a contar.

Algo muito importante também, voltando à questão dos detalhes são as próprias observações do entrevistador. Como já foi dito, as entrevistas da primeira temporada foram todas feitas virtualmente, portanto a linguagem corporal do/a entrevistado/a não pôde ser vista, da maneira que conseguimos na entrevista presencial, mas a percepção de sua voz pôde ser percebida e elas expressam muitos sentimentos. A voz está expressando felicidade, paz, serenidade ou medo, ansiedade, angústia? Visualizar tais características pode auxiliar em uma melhor descrição dessas particularidades na criação do texto do roteiro, por exemplo.

Por fim, se engana aquele que pensa que a única e grande preocupação durante a construção do podcast é a qualidade do áudio, se estão em um bom tom e volume, se estão editados corretamente ou se a dicção do narrador e fonte estão boas. Coisas que apesar de serem indispensáveis no momento da edição, são tão importantes quanto a elaboração e construção de conteúdos criativos, caprichosos e detalhistas e para que tenhamos isso em mãos, a realização de uma entrevista eficiente torna-se indispensável.

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Isadora Dias
Comunicast

19 anos e jornalista em formação na Universidade Federal de Mato Grosso.