A gaveta

Alice Murrayr
Comunidade da Escrita Afetuosa
1 min readJun 1, 2024

Meias. De esporte, três quartos, de lã, algodão, de nylon.

Na escola fazíamos trabalhos manuais. Aprendi a fazer tricô, crochê, bordar e costurar.

Aprendemos a fazer um par de meias de tricô, com 5 agulhas. A minha era vermelha, de lã grossa. Ao terminar costurei uma sola de couro macio em baixo para poder usar como pantufa. Ainda tenho estas meias.

Mais tarde, adulta, fui estudar pedagogia Waldorf e tive que tricotar a meia novamente, agora com o olhar de educadora e não como aluna. Esta meia era de lã verde.

Fui olhar as meias. A vermelha que fiz como criança tem pontos bem soltinhos. Ficou grandalhona. Uma boa pantufa. A verde, feita já como adulta, tem os pontos mais firmes e regulares, serve certinha no pé.

Comparar trabalhos feitos a mão nos revela muito sobre quem os fez . Neste caso me mostrou bastante sobre o meu próprio desenvolvimento.

Como criança era relaxada, não no mau sentido, mas não ligava muito se meu trabalho ficaria bom ou perfeito. Queria acabar. Como adulta, já queria ter um trabalho bom, que ficasse bem feito e coubesse direitinho, perfeito até. As meias me mostram claramente o meu amadurecimento .

Trabalhos manuais são reveladores. Se estamos dispersos, erramos muitas vezes, os pontos ficam frouxos. Se estamos tensos ficam apertados de mais, deformados e se estamos bem e focados, o trabalho sai bem feito.

Fecho a primeira gaveta do armário. A gaveta de meias, penso sobre o amadurecer.

Alice Murray Reimer

Maio ex 1

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Alice Murrayr
Comunidade da Escrita Afetuosa

Adoro livros, bibliotecas e livrarias e é claro uma boa história.