A impressão pelas redes sociais

O cabelo de Helena está castanho escuro, pintado. Longo, liso. Sua beleza chama atenção. Os olhos azul esverdeados como os de sua mãe. Ela e a mãe se olham com ternura, são fisicamente parecidas. Helena se declara para mãe na postagem, aparentam serenas na foto, doces. Devem ter um bom relacionamento e serem próximas, penso eu.

Nas outras tantas fotos, a dos três filhos de Helena, ora ela abraçando um, ora outro. Textões de amor. Ela não trabalha, esteve em casa com eles desde o nascimento, alimentando, ninando, brincando. Os olhos dela brilham, o sorriso sempre aberto nas fotos. Parece alegre, expansiva, amorosa.

Em uma das fotos, ela relata que a filha caçula tem muitas dificuldades para dormir. Conta que, nos primeiros quatro anos de vida, a menina sempre procurava chorosa pela mãe nas madrugadas. Era atendida com carinho. Ninava a pequena e muitas vezes a punha para dormir na própria cama.

O álbum de fotos de Helena também mostra que sua família de origem é grande. Sete filhos no total, ela, a quarta. Palavras carinhosas dirigidas aos irmãos, inúmeros sobrinhos, cunhadas e cunhados. A família é tudo para ela.

Outra sequência de fotos, da temporada em que Helena, o marido John e os filhos foram morar na praia. Publicou fotos profissionais da família caminhando pela areia, os cinco de mãos dadas em uma escadinha de acordo com a idade. Em outra, ela e as filhas mergulhadas na parte rasa do mar. John aparece em outra foto, sentado sobre a areia com a esposa deitada em seu colo, o olhar dele é distante, perdido no horizonte.

“Você pode falar?” John me pergunta. Eu estava em um ônibus a caminho do interior, era sexta à noite. Respondo afirmativamente pelo whataspp. Depois de alguns rodeios, ele me relata que há um bom tempo seu casamento está em crise.

Escuto surpresa, sei o quanto ele é fechado para falar sobre isso, mesmo para mim, sua amiga desde a adolescência. Não nos vemos há muitos anos, ele voltou ao seu país de origem, Canadá. Mantivemos o contato, alguns períodos de maior contato, outros menos. Não conheço pessoalmente sua família. Sinto que ele precisa desabafar.

Ele me conta que um dos problemas principais tem sido a constante oscilação de humor da esposa. Nos momentos de raiva dela, há gritos pela casa, cara fechada, palavras fortes, choro. As crianças estão sendo impactadas pelo comportamento da mãe.

Aconselho que ele busque algum tipo de ajuda profissional. Ele diz que conversou bastante sobre o assunto com o médico que o atende. John sugeriu a esposa a fazer terapia, ela rechaçou veementemente. Não quer mais falar sobre isso. Os familiares dela acreditam que a única ajuda possível é a de ordem religiosa.

Nova mensagem de John. O comportamento da esposa segue instável, ele me relata. Atitudes dela como cobranças e críticas que o machucaram. Ele cogita o divórcio, sente-se inseguro, quer ajudá-la, não sabe como.

Abro o instagram. Ela é uma de minhas amigas na rede social. Ela publica uma sequência de fotos chorando, descabelada, as veias saltadas. Escreve que foram dias difíceis, que não conseguiu cuidar de si, nem mesmo dos filhos, o marido que tomou frente de tudo.

Dias depois, a publicação é apagada. Seguem-se fotos com os pais e palavras afetuosas dedicadas a eles. Helena sorri nas fotos. Um story dando conta que uma terapeuta holística tem lhe ajudado. Esperança. Respiro a todos.

Outra postagem de uma nova viagem da família a praia. Fotos deles brincando na água. Fotos de Helena com John, apenas eles dois. Ela agarra-se nele como quem agarra a esperança. Palavras de amor a ele, de gratidão a Deus. John com o olhar apreensivo.

Os stories mais recentes são sobre livros. Leitora voraz, ela dá dicas de diversos livros. Comenta que lê e incentiva os filhos à leitura. Escancara que seu sonho na juventude era o de ser escritora. Cogita fazer um curso de escrita e buscar esse desejo antigo.

As fotos do marido, dos filhos, pais, irmãos continuam sendo publicadas. Ela abraça cada um deles, sorri, declara seu amor a eles. Ela sempre me pareceu amorosa, calma e alegre.