A mulher sozinha
A mulher andava nas ruas de pedra da cidade como se flutuasse. A barra de algodão do vestido azul as vezes se enroscava nos passar de uma pedra a outra. E com uma sutileza, erguia ele mostrando seus pés, canelas e as vezes as coxas. Seus cabelos já com alguns fios pratas, caiam sobe seu decote e parecendo a incomodar jogava os para trás delicadamente.
A maioria das pessoas naquelas ruas se equilibravam entre uma pedra e outra, tateando para encontrar o caminho mais fácil ou tentando conciliar o olhar para o chão e para as casas históricas. Mas, a mulher ali sozinha, parecia caminhar junto com a brisa, levemente, mas não sem percalços.
Sentia os olhares, mas não se constrangia. Sabia que talvez enfeitiçava, não porque soubesse fazer feitiço, mas porque estar ali sozinha parecia um mistério para outro.
Não foi fácil chegar ali e caminhar sozinha sem medos. Apreendeu com seus pais que uma vida só poderia acontecer se estivesse com outros. Houve tempos em que no caminho faltou família, faltou dinheiro, faltou amores, faltou amigo, faltou… Precisou percorrer todo caminho de pedras, machucando os pés por causa dos calçados errados, rasgando vestidos sem poder comprar outro, esperando uma mão estendida que disse que iria junto ou simplesmente alguém que ensinasse o caminho mais fácil. Tentou ficar ali parada esperando alguém notar sua tristeza. Muitas vezes gritava e num rompante de raiva acusava a falha que o outro cometeu com ela de lhe deixar só. Chegou a acreditar que nada seria possível. E quando se viu realmente sozinha, teve que ir em frente sozinha mesmo, porque ir era um desejo.
A solidão fez a mulher entender quem ela era, na verdade mais pura e as vezes crua. E isso foi possível porque estava sozinha. Para mulher não teve nada de mistério nisso, simplesmente foi a coragem de estar só. Nesse percurso ela já sabia que podia escolher com quem e quando dividir sua verdade, sem exigir do outro algo que provavelmente não poderia fazer por ela.
E caminhando naquela cidade antiga, cheia de pedras já conhecidas, começou a escutar uma melodia inundando as ruas. Sem saber de onde vem, continuou andando até encontrar um velho novo amigo que fizera naquele fim de semana. Ele tocava um saxofone e sorrindo com o olhar sentiu que ele a convidava para sentar. E ali no seu vestido azul escolheu sentar no degrau do casarão e escutar a valsa que enfeitiçava os casais a dançarem sem se importar com os tropeções nas ruas de pedras. Mas, SÓ ela percebia isso.