A.R.R.E.B.A.T.A.D.O.R

Sonia Marques
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readDec 20, 2023

Dezbrunaex1 — Comunidade da Escrita Afetuosa

Desafio baseado na referência da escritora Bruna Palazzo: 
"Escreva aquilo que você gosta de ler"

Aprecio ler e escrever sobre relacionamentos.
Escolhi reeditar um texto que escrevi em ago/22 para o Clube da Escrita.
Um momento muito especial que vivi.

Tomara que gostem de ler ou reler.
Dá pra ouvir no link abaixo.
E até ver a performance no outro link.

Divirtam-se!
fonte: acervo da autora

Ouvir: https://www.instagram.com/p/ChiNvrRgQ7Y/
Performance: https://www.instagram.com/p/CM2z70XnUKP/

Nossos olhos nos uniam com uma ferocidade profunda. Embriagados pelo ímpeto de, ali, pertencer um ao outro. Tocar intimamente. Alma com alma. Corpo com corpo.

Não imaginava esse momento. Assim. Forte. Cru. A.R.R.E.B.A.T.A.D.O.R. Pensei em diversão. Dificuldades. Erros. Risadas. Convidei-o para esta partilha. Na verdade, desafiei-o. Julguei que teria que investir em bons argumentos. Que íamos bailar nas tentativas de convencimento. Que nada!

Aquela atmosfera penumbrosa acolheu-nos com uma intensidade nada obscura. No jogo de luz e sombra, nossas silhuetas moviam-se com desenvoltura. Envoltos pela música suave e penetrante, bailamos suspensos no ar. Evoluímos a coreografia, exaustivamente ensaiada, sem perceber as imperfeições. Muitas. Todas deixadas para trás. Ali. Naquele dia. Naquele momento. Éramos mestres.

Rimos muito sim. De doer a barriga. Engasgar-se até. Dia após dia de treinos. A partir do instante do “sim”.
_ “Querido, tenho um sonho. Sonho este que nem sabia que tinha. Sério! Dia desses vi algo na internet que me acendeu uma vontade de fazer uma dança.”
Meu marido, com olhos arregalados, cabeça inclinada, mantinha-se quieto. Sem dar pistas se pensava que eu estava brincando ou tinha enlouquecido mesmo. Prossegui.
_ “Ouvi uma música que me encantou. Queria fazer uma dança, nós dois, para gravarmos. Um clipe mesmo. Para comemorar meu aniversário. Tipo um presente. Algo simples. Topa?”
Sem titubear…

_ “Claro que topo.”
_ “Já escolheu a música então? Temos que começar a ensaiar. Começamos agora?”

Um mês e meio de ensaios todas as noites. Câmera do celular posicionada. Música. Passo a passo, fomos criando nossa brincadeira. Parecia que teríamos que desistir. Era rir para não chorar. Desistimos não. Pior, nosso clipe foi ganhando vida e já não bastava uma produção caseira. Fui atrás de cinegrafista, set de filmagem (uma escola de dança — olha só a ousadia). Maquiagem, cabelo, roupa.

Nossas mãos tocavam-se com uma leveza magnética. Nos corpos envolviam-se. Iam e vinham. Misturavam-se. Movimentos ritmados. Sincrônicos. Pés. Braços. Mãos. Olhos. O compasso da música nos penetrava. Imersos, totalmente, naquele instante mágico.

Três horas e meia gravando. A música recomeçando a cada término. Ininterruptamente. A coreografia sendo repetida. Incansavelmente. Até nossa cinegrafista estar satisfeita com as tomadas necessárias. Resultado — clipe de três minutos e meio.
Exauridos!
Doloridos!

_ “Querido, acho que precisamos de uma Novalgina. Ou duas. Que tal?”
_ “Sugiro um vinho. Topa?”

_ “Claro que topo.”

P.S. O Desafio era escrever a partir da bula de um remédio. :o

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Sonia Marques
Comunidade da Escrita Afetuosa

Aprendiz de escritora - @sousoniamarques Compartilhando experiências - formada em Adm Florianópolis/SC