A sutileza da solidão

Audry Santos
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readJul 29, 2024
Imagem gerada por IA

Uma sala iluminada por um único abajur. Uma taça de vinho chileno sobre uma mesa de mogno escura. Uma mulher saboreia a bebida. Sozinha, como tem estado há alguns anos. Desde que se mudou, é assim que vive. É ela por si. Tem sido delicioso. E tem sido difícil.

Ela pensa no vídeo que viu na internet. Um humorista brinca com uma mulher que não tem amigos. E isso é motivo de risada. Tem dias que ela mesma ri da própria solidão. E tem dias que chora. Depois de um dia de trabalho, o chinelo estará no exato lugar em que deixou pela manhã. Um copo com água pela metade sobre a pia, ainda estará lá. Não há surpresas quando se mora só. As coisas permanecem no lugar em que foram deixadas. Depois de um dia de labuta, ao chegar casa, a sala parece excessivamente para uma única pessoa. Como uma planície que os olhos veem até o horizonte. Só não há eco porque o ambiente está repleto de móveis.

Na cidade de origem, tinha amigos. Muitos. Havia companhia para todos os eventos: de festa infantil à Concerto de Ópera. Agora, havia aprendido a sair sozinha. Ou era assim ou não iria a lugar nenhum. Quando se chega numa cidade nova, em que não se conhece ninguém, é assim. As pessoas recém conhecidas não podem te acompanhar, elas têm uma vida, uma rotina que já estava estruturada antes da sua chegada. Então, resta a solidão de casa ou a aventura de sair só.

Lembra-se do dia que foi ao cinema, somente ela. Era terça-feira e imaginou que o ambiente estaria vazio. Comprou pipoca doce e salgada, um copo de refrigerante e escolheu a última poltrona. Lá de cima poderia observar cada pessoa. Eram cinco no total. E um casal. Quando o ambiente ficou escuro e havia apenas a iluminação da tela, não tinha um ombro para se encostar ou com quem comentar sobre o filme. Se sentiu feliz. Estava curtindo um programa que sempre gostou.

A primeira vez que se sentou em um bar, sem companhia, para beber algo, se sentiu estranha. Parecia que todos a olhavam. Bar não é lugar para confraternizar, rir e conversar alto? Pegou o celular para não ter que encarar as pessoas. Depois pensou, não vou me esconder atrás de um objeto. Guardou o aparelho e acabou a cerveja, criando histórias mentais de quem estava presente.

Recorda-se de uma tarde ensolarada, num parque da cidade antiga, onde os amigos se reuniram para um piquenique. Risadas, música, e a sensação de pertencimento. Era um tempo em que a solidão não era uma opção.

É… Às vezes, se está sozinha, sem amigos, não por ser chata ou introspectiva demais. Pode ser um jeito que encontrou de viver em um lugar que não conhece ninguém. É um jeito de sobreviver às adversidades. É um jeito de estar. No seu mundo.

#julex1

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Audry Santos
Comunidade da Escrita Afetuosa

Mineira. Leitora. Aprendiz de escritora. Fotógrafa por amor. Observadora do cotidiano. Amante de música, violão e corrida. Poética.