Abusada
Por trás de cada “eu te amo” existe a dúvida. Será mesmo? E você já me amava ali, no começo de tudo? Éramos jovens. Mal completamos seis meses de namoro e fomos morar juntos. Paixão. De cinema. Nossos corpos se encontravam. Em todos os cantos. De todos os lugares. Na lavanderia. Na cozinha. No banheiro. A cama era nosso mundo abreviado. Onde as labaredas podiam inflamar.
De repente, veio a primeira discussão. A segunda. A terceira. Parei de contar. Ciúmes. Dos dois lados. Raiva. Também dos dois. Medo. Esse era só meu. Não queria te desagradar.
Parei de usar aquela calça jeans justa que te incomodava. Os decotes. As sandálias de salto. Maquiagem. Para quê? Tenho a pele boa, você sempre disse.
Fui sumindo no papel de namorada perfeita. Te esperava em casa tarde da noite com o jantar pronto. Você preferia ir para os bares perto do trabalho com os colegas. Tudo bem. Se eu brigava? Às vezes. Você me mostrou que eu estava errada. “Não tem nada demais. Você é louca?”
Achei que fosse quando encontrei as coisas dela no nosso carro. Ou quando li as mensagens de Whatsapp daquela outra, no seu celular. Já estava grávida da nossa filha. Você se lembra? Tive palpitações naquele dia.
Sou louca mesmo. Meu pai dizia que eu era desequilibrada como a mulher do vizinho. Aquela que gritava por não entender o desamor dos outros. Talvez seja tão maluca quanto ela. Enxergo coisas que não existem.
As noites que você saiu e fiquei sozinha. Todas as vezes que você me criticou. Seu jeito de explicar o jeito certo de fazer as coisas. Foi tudo para o meu bem.
“Né, amor? Você me ama ainda?”
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