Fabi Vitiello
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readSep 24, 2024

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ACORDA

Quando meu corpo despertou voluntariamente hoje, dando provas da transformação que nasceu em mim nestes tempos em que a maturidade me abraça, investi uns minutos pra lembrar os meus acordares de vida toda.

Nunca foi fácil, em verdade. Sabe se lá pela herança genética ou uma preguiça cultivada, fato é que o despertar provocado jamais me foi algo prazeroso.

Primeiro porque a escola que me acolheu a infância despertou em mim muitas sensações, exceto o desejo de lá estar. Acho até que o verbo acolher nem era conjugado por ali. Isso acinzentou minhas manhãs, mesmo nas de primavera.

Muitas voltas do ponteiro depois, o trabalho. Daí pra frente, quem dá as cartas são as obrigações mais severas do mundo adulto. A gente passa a despertar para as dificuldades da vida, não mais para as manhãs.

Lembro-me de certo período remoto em que, dado o sofrimento para executar a tarefa, não sei de onde veio, nem por intermédio de quem, um despertador surgiu ao lado de minha cama. Uma peça linda, que ostentava seus algarismos romanos em itálico e negrito bem como suas proeminentes sinetas redondas e metálicas, entre as quais se encaixava um pequeno martelo de ação dupla lateral. Posso ouvi-lo agora se quiserem (mas não a meu desejo).

Ele ladeou meu sono por algum tempo, não sei ao certo quanto. E me acordava pontual, como deveria. Acordava, mas não me despertava nenhum prazer. Só acordava mesmo, assim como as britadeiras e sirenes que eventualmente se atreviam em nossos arredores.

Ainda hoje sigo acordando todas as manhãs. E cada vez mais cedo e espontâneo, na proporção do tempo que a natureza me permite em vida. Mas despertar mesmo, para a felicidade do reencontro com a vida, com meus amores e meus pássaros, o que me faz valer a pena interromper os sonhos mais prazerosos, é o som baixinho e aveludado e disparar:

“acorda amor”…

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Fazer parte dessa comunidade é dar voz para a sua alma, abafada pelas demandas e imposições da vida, da rotina. Demanda dedicação, vontade, persistência, tempo para si. É saber olhar para si com generosidade e carinho. E uma boa dose de coragem.

Fabi Vitiello
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Written by Fabi Vitiello

Sou mãe de Pedro. Esposa de Edu. Adoro bolo de cenoura e doces. Sou paulistana, mas amo morar em São Xico. Tenho uma livraria que se chama Casa Nynho.