Aquele em que os Fãs Não Esperavam… ou Esperavam?

Cynthia Teixeira Esteves
Comunidade da Escrita Afetuosa
4 min readOct 30, 2023

Cuidado: texto pode conter spoilers e referências.

Sábado, vinte e oito de Outubro. Pego minha taça de vinho e decido finalmente escrever um texto para a Comunidade de Escrita. “Escreva sobre um nó na garganta”, era o que pedia o exercício proposto. Sento, apreciando minha bebida. Decidi pesquisar, mas só apareciam informações sobre doenças, caroços, nó e ansiedade.

Enquanto pensava, recebi uma notificação no celular. Era meu namorado. “Amor, o Matthew Perry morreu!”. Matthew, Matty ou Chandler, de Friends. O irônico, sarcástico e o que sempre teve um humor ácido. Assim como eu.

O mundo parou de girar. Falta de ar. Quando percebo, já saíram pelo menos dez lágrimas — de cada olho. Meu estômago embrulha. Sinto um bolo formando na garganta. O vinho, que estava quieto, na dele, começou a conversar com o estômago e todo o sistema nervoso. “Não pode ser”, foi a única coisa que consegui responder. Torci, enquanto procurava por informações, para que fosse uma daquelas notícias falsas.

Foto da porta de casa com o Funko de Chandler, em uma da suas cenas mais engraçadas. Foto: Cynthia Teixeira

Friends, é a minha “série conforto”. Que me abraça nos melhores e piores momentos. Ela consegue me fazer rir, chorar e chorar de rir. Chandler foi o meu primeiro personagem preferido, na primeira sitcom que assisti na vida. Ok, talvez tenha sido o primeiro logo depois do Joey.

Lembro que descobri a série no início dos anos 2000, pouco antes dela chegar à sua décima e última temporada. Não me lembro qual episódio estava passando, mas não precisou de muito tempo para me apaixonar. Fui logo atrás da primeira temporada, numa locadora. Vi inteira em um dia, fui dormir às quatro horas da manhã indignada com a nova namorada de Ross.

Aprendi um pouco com todos eles, mas foi Chandler quem me ensinou a arte do sarcasmo. Assim como ele, sou irônica e não choro fácil. Quer ajuda? Talvez eu consiga te ajudar com um comentário sarcástico mesmo. Faço piadas quando estou em alguma situação desconfortável e adoro uma piada idiota. Dava para eu ser mais parecida?!

Já assisti vários episódios milhões de vezes. Choro horrores com a décima temporada, choro — escondida — com o pedido de casamento e entendo ele quando some, horas antes de se casar.

Livro, lançado esse ano, e escrito por ele. Foto: Cymthia Teixeira

Esse ano, li o livro que Matthew escreveu. Doeu ler tudo aquilo. Experiência de quase morte — a família foi informada que ele teria 2% de chances de viver -, vícios e bebidas. Sem lembrança nenhuma do que gravou, em uma das grandes séries que fez todos descobrirem seu grande talento e seu humor. Matthew, é Chandler, mas com vício em remédio. Fazia piadas de si mesmo, como Chandler sempre fez.

Em cada palavra do livro, havia dor. No fim, ele dizia estar sóbrio. E então, recebemos esse tapa na cara. Esse soco no estômago.

Hoje — dia vinte e nove — após uma noite mal dormida, acordei triste e com um peso no estômago. Nas redes, só fotos, fotos e mais fotos. Milhares de homenagens. Porém, o nó e o aperto na garganta, já não apareceram mais.

Assisti um vídeo, não muito antigo e já conhecido, onde ele dizia que, quando morresse muitas pessoas ficariam tristes, claro, mas ninguém ficaria surpreso com a notícia. Eu estou, mas também não estou. É um sentimento confuso, e dolorido.

O que sinto, é o mesmo que perder alguém importante. Ele — e o restante do grupo — são como grandes amigos, que sempre estarão por perto. Eu perdi um amigo. Chandler sempre estará lá, pra me fazer rir e pensar “putz, como eu sou parecida”. Mas, ao mesmo tempo, não estará. E apesar de triste, é Friends, é o Chandler, que eu quero ir assistir.

Matthew, descanse em paz, prometemos que não faremos mais barulho.

Imagem: Internet

Exercício proposto pelo curso Comunidade da Escrita Afetuosa.

AlvoradaMod2Ex1

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Cynthia Teixeira Esteves
Comunidade da Escrita Afetuosa

Escritora taurina e introvertida. Escrevo Crônicas sarcásticas mas que também fazem pensar.