Auto retrato

Inês Gariglio
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readJun 14, 2024

Demorei-me. Busquei os álbuns de fotografias da infância e adolescência. Vasculhei as fotos guardadas no computador. Uma pergunta me assalta: será que os outros me vêem como eu me vejo? Na comparação das fotos de pontos diversos nessa linha de tempo a que chamo de minha vida, ponho reparo nos aspectos que são genuinamente meus, que pouco mudaram na trajetória.

Sou uma mulher de baixa estatura, morena e de pele clara porque não tomo sol. Os cabelos são pretos, macios ao toque. Curtos, lisos e, atualmente, coloridos em um castanho escuro com fios dourados. Os olhos são verdes, no tom das folhas do abacateiro. Mas se você os olhar de perto, possuem um contorno em azul e outro em amarelo que lhes garantem uma certa variação de tonalidade, a depender do humor e das roupas do dia. A raiva os deixa verdes como folhas novas. São emoldurados por um par de óculos verdes, ovais, com lentes claras. As sobrancelhas são também escuras, com formato um pouco arqueado. Se expressam quase que autonomamente, denunciando minha surpresa, desdém, alegria. O nariz é grande; a ascendência italiana declarada. Ostenta uma disfarçada cicatriz, remanescente de uma cirurgia para a retirada da parte que se reproduzia enlouquecidamente. A boca é carnuda, grande. Normalmente, escancarada em um sorriso amplo que descortina, como em um palco, os dentes brancos e bem desenhados. As orelhas são modestas, mas sempre estão enfeitadas por dois pares de brincos — um sempre pequeno do tipo ponto de luz e o outro, mais diverso em sua composição e tamanho.

Uso, quase sempre, roupas clássicas. Nos tempos de agora, as cores estão mais presentes. Substituem a primazia do preto dos idos tempos de juventude.

Adoro os olhos maquiados com sombras marrons, em seus vários tons e circundados pelo lápis bem preto bem traçado. Na boca, os vermelhos têm minha total adesão.

As mãos são pequenas, com dedos curtos, unhas quadradas. Nem sempre estão pintadas, mas continumente cuidadas. Nos dedos, vários aneis com pedras variadas, geralmente em prata. O design os tornam diferenciados.

Olho as fotos. Por meio delas, rememoro a jornada. O Caminho Vermelho como incógnita a ser clareada enquanto o percorro rumo ao Azul.

Inês Gariglio Junex3

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