Carta para a amiga que será
Pois é, você ainda não sabe, mas você será minha amiga. É. Resolvi. Na verdade, acho que não resolvi nada. Estou plagiando a Clarice que um dia escreveu uma carta para a Olga convidando ela para ser amiga, ou pressinto a resposta das minhas orações? Amizade é um trem louco, né? De repente bate e pronto. O domingo de Páscoa foi maravilhoso. Ficamos só nós três e foi ma-ra-vi-lho-so! Aliás, amo essa palavra. Muito mais do que lindo, linda, legal. Legal? Tenho horror a legal! Será que isso quer dizer algo? No meu id? Acordei quinze pras seis. Num domingo! Que é isso, você deve pensar. Acordei e fui olhar o mar. As nuvens. As ondas. Estava tudo tão perfeito, tão cheio de tudo que achei que estava até numa “ananda”. E fazia tempo que isso não acontecia. Foi bom. Já que acordei cedo, fui montar a caça ao ovo de páscoa que queria ter montado na noite anterior, mas capotei de sono. Abri o celular, li as pistas, enumerei os papeizinhos e coloquei nos lugares indicados. Ele vai amar! Eu pensava enquanto montava tudo. Tem coisas que a gente faz de mãe boba mesmo, né? Tomei banho e esperei os dois acordarem pensando e olhando o mar. Acordaram, o pequeno reclamou que não tinha um coelhinho de Páscoa. Reclamou indiretamente. É assim o modo dele. Será que puxou isso de alguém? Eu, ou ele? Nem parei pra pensar nisso ainda. Então fomos logo para a caça porque junto com o ovinho pequeno que comprei nas Americanas às nove da noite e aguentei uma fila de vinte e cinco minutos tinha também um coelhinho de nariz cor de rosa, pequeno, o equivalente ao nosso bolso. E foi uma delícia! Ver o pequeno sorrir, bater palmas de contentamento, abrir o forno finalmente e pegar o ovo e o coelho e abraçar o coelho e até esquecer do ovo e sorrir e sorrir e sorrir não tem nada que se compare. Seguiu-se o café com colomba pascoal que pra mim só é um panetone reinventado, sem mesa posta de instagram porque não tinha nem como. Airbnb, minha querida. Os baratinhos tem quase nada. Ficamos prontos, animados e alegremente seguimos para a igreja. Debaixo de chuva. Benção, né? O culto foi não surpreendentemente maravilhoso. Porque eu já esperava que seria mesmo. Mas foi até mais do que eu previa porque você estava lá. Agradável e amigável surpresa. Porque hoje em dia pouca gente se fala na igreja. Só Jesus mesmo que acolhe quem não o conhece ainda. Os irmãos estão meio estranhados. Também, né? Teve lobo querendo usar pele de cordeirinho enganando um monte de gente por aí por quatro anos. E ainda queria mais! Graças a Deus que não deu. Nós trocamos algumas palavras, você foi bem receptiva e pediu meu contato no final do culto, nos despedimos prometendo nos falar em breve. Eu e meus amados fomos almoçar e preparar a mala para o retorno ao interior do estado e à semana de trabalho. O pequeno não estava nada animado para voltar. Nem eu, na verdade. E disfarça que disfarça para não desmoronar faz parte do pacote das habilidades da vida adulta. Mas a semana começou diferente para mim: com a esperança da minha futura amiga entrar em contato. E você entrou. Tomara que seja para ficar.