Cinquenta Tons de Roxo
Talvez essa tenha sido a pessoa mais peculiar que eu já vi em trinta e dois anos de vida. Foi na época da faculdade, dez anos atrás — e ainda me lembro vagamente dela. Eram sete horas da manhã, na linha azul do metrô, em São Paulo. Não estava muito cheio. Sinal de que ainda não havia chegado na Sé, onde o caos iria se instaurar.
Eu, como de costume, estava ao lado da porta — ótimo lugar para ficar — dependendo de onde sair, o empurra-empurra da multidão te ajuda a sair facilmente. Eu estava atenta à minha leitura, até que ela entrou. Encarei por longos segundos, e pensei: “Estranho, mas interessante… Corajosa.”.
Era nítido que ela não estava se importando com olhares alheios. Ignorou. Ou simplesmente não reparou. Estava ali, na minha frente, refletindo sobre a vida. Acredito que estava na casa dos sessenta anos, seus cabelos eram curtos, ondulados e pintados de lilás. Me fez lembrar aquelas senhorinhas que, muitas vezes, encontramos na rua, com o cabelo todo tingido — resultado de algum produto químico — mas, no caso dela, algo me diz que ela pintou por vontade própria.
Estava com uma bolsa tiracolo, não muito grande, na cor roxa. Usava um conjunto; casaco e calça, os dois numa tonalidade mais escura de roxo que contrastava com a sua blusa, que era um roxo mais claro. Tênis?! Adivinha…
Me perguntei se ela estava indo para algum lugar, talvez para algum grupo anônimo para amantes de roxo — será que ela me passaria o número? Desviei o olhar, e encarei meu reflexo na porta do metrô. Cabelo solto — mas não preto — blusa preta, leggin preta, tênis preto. Acho que não estava numa ótima posição para julgar.
A porta se abriu e um mar de gente saiu. Quando olho para frente, ela não estava mais ali. Era uma figura bem interessante e que cheguei a ver várias vezes com a mesma roupa. Só espero que não tenha sido fruto da minha imaginação sonolenta.
Texto Comunidade da Escrita Afetuosa.
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