CIRANDA

Belkis Pannaci
Comunidade da Escrita Afetuosa
1 min readAug 29, 2024
Roda, 1942
Milton Dacosta

Tete caiu na primeira volta.

E as três irmãs, as três Marias estenderam a mão

A primeira deu oito voltas e com oito anos a cuidou

Tete a colocou à sua frente na ciranda, como se coloca uma santa no andor

Mas, na primeira volta ela afrouxou as mãos e se foi sem pudor

Tete caiu pela segunda vez

A segunda pegou sua mão, deu seis voltas e mais três rodopios

Era a única que sabia ser alegre numa ciranda

E não parou: mais seis voltas mais quatro rodopios vezes mil dividido por um tombo com queixo ralado

A alegria demais…

Na vigésima volta, Tete não caiu

Porque a terceira segurava firme sua mão

Parada, quase estática

Por que nada podia, tudo era ruim

Cirandar trazia culpa

Tete era a quarta não Maria

Queria ter e ser a primeira

Queria ser alegre e estar alegre com a segunda

Queria ficar de mãos dadas com a terceira

As três Marias não estavam mais ali

Suas mãos seguravam e soltavam outras mãos, nas primeiras voltas ou no quinquagésimo rodopio

Cirandava agora do seu jeito, mas não sem elas

Agoex3

--

--

Belkis Pannaci
Comunidade da Escrita Afetuosa

Quando vim a essa Terra me senti um nada Quando pisei nela pertenci a Grande Mãe Terra Quando andei por essa Terra pus a escrever e me senti livre