CIRANDA
Tete caiu na primeira volta.
E as três irmãs, as três Marias estenderam a mão
A primeira deu oito voltas e com oito anos a cuidou
Tete a colocou à sua frente na ciranda, como se coloca uma santa no andor
Mas, na primeira volta ela afrouxou as mãos e se foi sem pudor
Tete caiu pela segunda vez
A segunda pegou sua mão, deu seis voltas e mais três rodopios
Era a única que sabia ser alegre numa ciranda
E não parou: mais seis voltas mais quatro rodopios vezes mil dividido por um tombo com queixo ralado
A alegria demais…
Na vigésima volta, Tete não caiu
Porque a terceira segurava firme sua mão
Parada, quase estática
Por que nada podia, tudo era ruim
Cirandar trazia culpa
Tete era a quarta não Maria
Queria ter e ser a primeira
Queria ser alegre e estar alegre com a segunda
Queria ficar de mãos dadas com a terceira
As três Marias não estavam mais ali
Suas mãos seguravam e soltavam outras mãos, nas primeiras voltas ou no quinquagésimo rodopio
Cirandava agora do seu jeito, mas não sem elas
Agoex3