Ciranda de cartas

brizam
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readApr 24, 2023

Abre o baú para escolher as cartas que vai usar. Essa não, essa não, essa não. Para. Respira. Pensa na pessoa. Essas aqui. Reza. Pede proteção e clareza. Pede para ser como uma criança que conta uma história, só olhando as figuras de um livro. Ela também vai contar uma história, só olhando as figuras de um tarô. Ao todo, 78. Cheias de símbolos, cores, números e naipes que conversam com ela e entre si.

Enquanto embaralha, desembaralha a mente. Desanuvia. A sua vida fica para depois. É um momento de entrega, de troca, entre quem fala, quem ouve e aquelas coisas que existem entre o céu e a terra, que não se pode imaginar.

Cartas na mesa, um quebra-cabeças se apresenta. Vai montando aos pouquinhos. Ora mais rápido, ora bem devagar. Quando consegue enxergar parte da paisagem, conta o que vê. Quem ouve, fala e ajuda a desatar nós, desenredar fios e tecer a narrativa que precisa ser compartilhada, só aquela que precisa ser compartilhada.

Então, a figura que as figuras mostram vai se completando. Ela fala, fala, fala, o que, às vezes, nem consegue compreender. “Faz sentido pra você?”. “Faz, faz muito sentido”. Ela sente alívio. Alívio e cansaço, porque a alma ainda dança, ainda essa dança ancestral. Ela sabe que vai demorar a parar.

Quem ouve, às vezes chora, às vezes ri, às vezes conta as suas próprias histórias. Também acontece de silenciar profundo. Talvez, seja o cansaço. O mesmo cansaço da dança, que dança no peito dela também. Feito uma ciranda, girando e girando e girando no sentido em que bate o coração.

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brizam
Comunidade da Escrita Afetuosa

alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino, menestrel e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate.