Corpo Sacro
Nos horizontes amplos, planos, longínquos
brumas, sombras de nuvens nas encostas, nos topos das árvores
a mistura céu-terra até onde os olhos não mais.
Outrora
verdejantes pastos, florestas, vinhedos, hortas
leitos sulcados pelos arados
murmurantes riachos em leitos de pedras
folhas cantantes para céus e pássaros
harmonia da Vida escondida no comezinho fluxo dos dias.
Em remotos tempos,
o encantamento pelas constelações celestes
em roda, os seres e o fogo
mil olhos seduzidos pela dança das salamandras
movimento dos silfos na pele e cabelos.
A Unidade perdida
no enlouquecido consumo
na ganância
no soberbo desejo de poder
na ilusão do domínio
no equívoco da separatividade.
Todos
terra devastada, alagada, arrastada
deslocadas árvores
seres sem o sopro divino.
Lama. Dor. Impotência.
Estupro do sacro corpo.
Inês Gariglio Maiex2