Da falta que.

brizam
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readApr 22, 2023

Miss,

há 10 anos, você foi embora sem se despedir. Ainda lembro de ver seu nome no visor do celular e outra voz falar, falar, falar e encerrar com: “ela partiu”. Pra onde, Miss? Pra onde você foi? E por que? Você nunca foi de sair mais cedo da festa. Você era a festa. A minha, pelo menos.

De lá pra cá, esse lugar, que é seu, ficou vazio. Ninguém se encaixa, preenche, cabe. E é certo que seja assim, de tão única que você é, era, é. Meu espelho invertido. Tão igual e completamente diferente.

Sinto falta das suas certezas, mesmo as mais duvidosas. Falta de falar sem medo de ser mal interpretada. De ser eu mesma, inteira e verdadeira. Mas, a verdade, Miss, é que me perdi de mim.

Aconteceu de repente. Eu nem percebi. Quando me dei conta, já não era a mesma de antes, já não era coisa nenhuma. Só um emaranhado de pensamentos e sentimentos, sem coerência, sentido ou direção.

Parece que a minha vida tem acontecido sem mim. Às vezes, me encontro numa foto, numa música, num trecho de livro, no abraço de alguém, numa esquina qualquer. Mas, são momentos fugidios. Passam como a vida tem passado: depressa.

Os dias parecem quebra-cabeças sem começo, nem fim. Eu choro, eu rio, eu mar. Tudo me atravessa e estar assim tão vulnerável, dói. Por mais que eu diga as pessoas que é bonito. Talvez, seja. Talvez, haja uma lição nisso aí. Mas, ainda não aprendi.

Queria era poder acalmar meu coração penteando seu cabelo e falando dessas coisas que vão em meu peito. Você fumaria um dos seus cigarros, ouvindo tudo com ar sério e concentrado. Depois, olharia para mim e começaria a rir do meu desmantelo, do meu desespero.

Não um riso de deboche mas, de cumplicidade. Desses que dizem sem dizer: “a gente tá tão fodida…”. Eu fingiria estar zangada por 10 ou 20 segundos até começar a rir também. Esse som, esse tom, era a nossa música e como dançávamos bonito.

Daqui, me despeço, te beijo, te amo.

Briza

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brizam
Comunidade da Escrita Afetuosa

alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino, menestrel e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate.