Desabafo
Disseram que ser mulher é padecer no paraíso.
Essa conclusão só pode ter vindo de um homem.
Por 33 anos sofro por ser mulher.
33 anos…
Existe apenas um homem cujo sofrimento esteja associado a esse número, mas não em sua quantidade.
Fala sério!
É uma vida inteira de incômodo, desequilíbrio da massa corporal, das emoções, acúmulo de fluidos, descontrole gástrico, cefaleias, cólicas.
Eu reivindico minha aposentadoria fisiológica!
Paz na terra a toda entidade portadora de útero!
Um famoso livro, o mais traduzido do mundo, descreve a origem de tanto desconforto.
Por que Eva? Por que?
Esse mesmo livro que fala de nossa criação, do amor universal, do perdão.
Perdão? Que perdão?
Maldição lançada por toda uma geração com o poder da reprodução.
Seguida de dor e abdicação?
Parece mais punição.
O torto conforto revestido de bençãos, cuja comparação se faz ao sentimento mais próximo de Deus, nos classifica como mãe.
Porém, quando assim não nos tornamos, ELA — a mãe maior- a portadora da maldição em todas as mulheres nos bate a porta.
Pontualmente todo o mês, joga na nossa cara que ser mulher não é padecer no paraíso.