Desconhecida
Ela dançava na pista como se não tivesse mais ninguém lá além das luzes e a voz de Gal. O corpo se mexia perfeitamente com a melodia, os olhos fechados levava ela bem longe de lá e o pé descalço não combinava com aquele chão imundo de uma casa noturna qualquer do centro de São Paulo. O vestido curto, preto e largo soltava do seu corpo como cortina de voal voando do lado de fora da janela de um apartamento qualquer. Ela levitava naquela pista de dança, gigante, plena. Eu olhava com admiração e inveja aquela mulher solta, iluminada pelas luzes do globo refletindo no seu cabelo prateado. Platinado. Cinza. Quase branco. A música termina, ela vira o copo de cerveja, senta na cadeira, coloca a sandalinha e sai. Assim, do jeito que entrou. Linda, gigante, plena. E fico com a última frase da música e vendo ela atravessar a pista e sumir: “E o leite mau na cara dos caretas. Chuva do mesmo bom sobre os caretas. E o resto inunde as almas dos caretas”.
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