Diana

Lu Rodrigues
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readSep 27, 2023

Diana acordou com o barulho das ondas. O mar quebrava nas rochas enquanto a mente arrebentava seu corpo. Olhou para o marido ao lado na cama. Dormia como um anjo. Demônio. Como ele conseguia descansar depois de discutir até de madrugada? Ela não. Pegou no sono por duas horas. Despertou com as ondas e o feixe de sol que queimava a cortina azul.

Decidiu levantar-se e caminhar na praia. Estavam hospedados num resort de luxo. O quarto estava em silêncio. As crianças também dormiam ao lado. Era o momento de solitude que precisava. Colocou a roupa de malha e foi pé ante pé até a porta.

Só queria flanar. Sem direção certa. Apenas para esquecer. As palavras não ditas na noite anterior. O olhar sem culpa de Antônio. Como ele podia a humilhar com uma traição? Fez tanto por aquele amor. Covarde.

O hotel ainda estava calado. Quase parecia um mosteiro, apenas com o canto dos pássaros da manhã. Caminhou em direção ao mar. Olhou ao redor: vegetação planejada em cada espaço. Tanta beleza artificial. Nada que a fazia sentir. Era como se corresse água parada em suas veias. Há décadas.

O vento que bagunçava os cabelos a arrastou feito um tornado para o passado. Lembrou-se de Daniel. Conheceram-se numa praia de Ubatuba. Em outra vida. Na época, eram jovens. Os dois tinham famílias com casas no litoral. Achou graça no rapaz cinco anos mais novo do que ela. Ele gostava de se mostrar maduro. Puxava assuntos de Filosofia e Literatura. A amizade cresceu.

Passaram a andar juntos durante todas as férias que iam para Ubatuba. Passeavam na praia. Conversavam sobre livros e paqueras. Daniel era seu confidente. Chorou no ombro dele muitas vezes.

Foi num luau na praia. Bebeu demais. E virou caçadora. Puxou o amigo para dançar e começou a beijá-lo. No fundo, já sabia da atração que exercia sobre ele. Porém, temia a paixão por um rapaz tão novo. Ali, libertou-se. E decidiu aprisioná-lo, feito uma presa que poderia escapar com qualquer movimento impensado.

Beijaram-se a noite toda. Daniel abaixou as alças de sua regata preta, afastou o sutiã e deu leves mordiscadas em seus seios. Uma onda de prazer tomou seus poros. Arrepios que contrastavam com o calor de seus corpos. Unidos por uma flama que não podia mais se apagar.

A rotina a amorteceu. Na vida. E lá, de férias com a família na praia, lembrou-se de Daniel. Lembrou-se da época em que SENTIA. No meio da pior crise no casamento. Três filhos. MÃE. COMPLETAMENTE MÃE. Onde se escondeu a MULHER? Não sabia.

“Você é jovem, tem muito para viver.”, repetiu várias vezes a Daniel. Não deu em outra. Não assumiu o desejo. E perdeu o amigo. O que era para ter sido não foi. E o que foi não era mais. Vivia entorpecida para não se entregar ao acaso. Até quando?

O vento fazia sua roupa esvoaçar. Aquela paisagem, naquele momento. Nada estava ali em vão. Seu corpo guardou na memória os vestígios do fogo. Não se deixaria apagar por qualquer ventania. Nunca mais. Era caçadora.

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Lu Rodrigues
Comunidade da Escrita Afetuosa

Escritora e jornalista. Aqui publico meus textos da comunidade de escrita da Ana Holanda. Site: www.maenuscritos.com.br Insta:@lurodriguesescritora