Dilemas de uma mãe escritora
Acordo. Exausta. Não tenho dormido bem. Ansiosa com o lançamento do livro. A mudança de casa. As eternas férias de verão das crianças. Tudo ao mesmo tempo. Vou para cozinha fazer uns ovos mexidos e passar um café. Juro parar de comer peito de peru. Os nitritos e os nitratos não conseguem me impedir. Coloco o peito de peru no ovo. Faço o scrolling matinal. Respondo as mensagens de mil horas atrás. A merd@ do fuso. Nunca consigo participar das conversas do Whatsapp no momento em que elas ocorrem. Estou dormindo quando todos conversam. Ops. Tentando dormir. Faço o café da manhã das crianças e vou lavar os banheiros. Escuto podcasts de literatura enquanto lavo as privadas. Penso em como é poética essa minha vida de escritora! Arrumo a cama e vou para a cozinha. O que tem para o almoço? Vou fazer a carne moída render. Misturo arroz e feijão preto. Pronto. Todo mundo alimentado. Depois do almoço posso escrever. Ops. A máquina está lotada. Tem roupa da semana para estender no varal. Ah, não! Preciso organizar a festa de aniversário do Rafa! Esqueci de responder os emails. Vou tomar um expresso, hoje não aguento ficar mais um minuto sem uma dose de café. Tenho que escrever três horas por dia. Li que o Stephen King escreve o dia todo. Claro, ele não precisa lavar banheiros. E tem uma esposa que cuida dele a vida toda. Homens. Gritaria na sala. Briga por causa do videogame. Tenho que tirá-los do mundo virtual. Crianças, vamos fazer colagens com a mamãe? Deixo as horas de escrita para depois. As crianças se acalmam. Volto para o computador. Medo. Por que continuo escrevendo? Será que alguém vai me ler? Por que quero que leiam? É meu ego? Ter que deixar um legado? Talvez meus filhos sejam minha melhor herança para o mundo. E não a minha escrita. Começo a chorar. Que droga! Minhas horas acabaram. Vou fazer o jantar. Carne moída de novo, mãe? Sim. É o que temos para hoje. Uma carne moída e cansada. Seis quilos de roupas na máquina para estender. E os dilemas de uma mãe escritora.
Alvoradamod1ex1
