emaranhado

Luciana Godoi
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readOct 18, 2023

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Fio feito de família, aquela em que se nasce e espera que perdure, para sempre em lindo laço.

Mas vem a vida e faz fiapo. Desfia, afasta, embola em nó o que antes era tão bonito. Perde-se as pontas, a cor, o querer ficar. Para encontrar de novo o começo leva-se tempo. A eternidade, talvez.

Eu mesma nem sei se quero buscar.

Fio feito do que ficou.

Onde ficou? A última vez em que aquele alguém me fez boa companhia. O fio dos nossos braços entrelaçados, dos passos ritmados em igual caminho. Risos, carinhos, cúmplices. Hoje é fio de vazio, impossível catar a ponta e puxar de volta, mais ainda seguir os rastros se equilibrando no topo.

Se tento, tombo.

Fio feito de faz de conta, do medo que finjo que não está aqui, mesmo que o sinta o tempo todo, no descompasso do meu coração.

Em fevereiro esse fio se desfaz, mas não em fiapo. Esse fio é pedacinho daquele outro. Novo, ainda forte, feito de família que se escolhe e se enfeita, quase perfeita. Vai me enroscar em graça. Suspiro, alívio, descanso. Talvez o mesmo que vai me costurar, depois que a última ponta de mim (de mim!) sair.

Fio que nunca se arrebenta e eu prometo não deixar desfiar, nem deixar de ser sempre tão bonito, sempre tão lindo laço.

Prometo.

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