Fora do padrão
Dezjuliaex1 — Comunidade da Escrita Afetuosa
Ontem estava arrasada. Considero-me uma pessoa forte. Um exemplo? Resisto bem as dores. Assimilo rápido. Aguento. Supero. Entretanto, tem momentos que a gente deprime. E nem era novidade o fato. Acontece sempre. E eu ainda deprimo.
Olha só. Fui ao shopping devolver uma peça de roupa que comprei pela internet. Achei que a blusa não me caiu bem. Estava lotado. Jurei que ia somente devolver e lançar o crédito para compras futuras. Quando coloco o pé na loja, minha cabeça gira. Literalmente. As “araras” estavam cheias de roupas lindas com preços convidativos. Meu coração palpitou. Bem, vou só fazer um passeiozinho para namorá-las. Gostei de tanta coisa! Sigo, parando a cada look irresistível. Conferindo, de forma discreta, se tinha o número 48.
Um parêntese: você deve estar pensando _ “48? Poxa nem pensei que ela fosse tão, tão…grande.” E de imediato corrige a si mesmo. _ “Nem parece.” Confessa que pensou isso. Jura que não pensou?
Fato que é 48 e, às vezes, nem ele cabe. Não compro o 50. Me nego. A tristeza começa aí. A maioria das roupas que apaixono não tem 48. Contudo, ontem me surpreendi, tinha várias peças. Você não disse que só ia entregar aquela? Que só ia namorar? Tem razão. Por este motivo, travei uma luta entre provar ou não essas lindezas 48. É um sinal. Só pode. Decidi pegar uma ou duas. Quando vi, estava com aquelas sacolas da loja, para a gente levar as roupas ao provador, abarrotada.
A atendente, começa a contagem das peças para controle. Uma blusa verde militar 46, uma 48. Uma bermuda de alfaiataria azul marinho 46, outra 48. Um vestido básico preto 46, outro 48. Uma saia de sarja creme 46, outra 48 e assim por diante. _ “Senhora, só pode entrar com 10 peças, tá? As outras a senhora pega depois.” Argumento que tem mais 4 somente, que vou ter que me trocar para voltar e quem sabe ela me dava já as peças e uma nova ficha de nº 4. _ “Não posso senhora, são regras. Não entendo por que a senhora pegou tudo 46 e 48, assim ficam muitas peças. A senhora não sabe qual o nº que veste?” Essa moça se passou, pensei. Irritada, mas controlada, entrei com as 10 peças liberadas, sem responder. No provador, começo provando as roupas pelo 46. Na ilusão que ficariam boas. A bermuda azul marinho, ainda que linda, super na moda, com pregas, de alfaiataria, em que o 48 pareceu-me uma cortina, de tão grande, a 46 nem entrou e a 48 não fechou. A cortina não coube. Desilusão. Assim foi caindo meu mundo. Um a um. Nada. Nenhuma peça eu poderia comprar. Cabisbaixa, retorno com as peças para devolver para a atendente. Que dispara: _ “Gostou? Vai levar alguma? Não vai provar as outras? Estão com preços de enlouquecer né?” Desisti de provar as outras. Não vou levar nenhuma. Obrigada. Abrindo a saia creme, com as mãos para o alto, indaga: _” não serviu?” Com um tom descrente dessa possibilidade. Serviu sim, mas não gostei. Dei as costas rápido para não ser desmascarada pela minha expressão de indignação e vergonha. Que moça metida! Pensei para me acalmar.
A devolução da peça tinha que ser feita direto no caixa. Enfrentei uma fila enorme, sem sequer ter a motivação de uma roupinha nova, linda, que coubesse em mim. Quiçá a 46.
*******
P.S. A blusa que fui devolver era de um tecido diferente. Uma cor verde folha escura. Um modelo não tão usual, ao menos para mim. Sabe, aquela que não me caiu bem? Menti. Comprei GG e mesmo assim não serviu. Fiquei bem triste. Doeu. Mas superei. Até aquele momento.
P.S. 2. Meu irmão, meu parceiro amado, lendo esse post, vem me confortar diante dos fatos: “A culpa de todo esse sofrimento é da MOÇA maninha !! Não liga! Essa guria deve ter sido torturadora da Santa Inquisição na outra encarnação…veio novamente para fazer pós-graduação nesses provadores de shopping !! Verdadeiras MARMORRAS modernas…gente infame…”
AGORA TÔ BEM.
