Gaveta de lembranças
Tenho duas primeiras gavetas no meu guarda-roupas. A primeira da porta direita. A primeira da porta esquerda. Na primeira da porta direita ficam minhas blusas brancas. Roupas que conta histórias. Tempos antigos. Viagens. Tempos modernos. Blusa branca é algo que muda muito. Mancha. Estraga. Mesmo assim conservo algumas relíquias. Como a camiseta branca de paetê prata que eu bordei um por um. Lembro bem daquele Baile de Réveillon muito especial. Branco e Prata. Aconteceu no Conquistano Futebol Clube. 1983. Queria ir bonita. Conquistar um gatinho. A blusa tá lá. Na primeira gaveta. Guardando uma história antiga. De tanto tempo atrás que nem me lembro mais.
Dentro de um saquinho fica meu manguito flamenco. Todo bordado com flores coloridas. Virado do avesso para não estragar. Do jeito que a cigana ensinou. Deu saudades… da dança. Esse casaquinho era colocado por cima da blusa preta e da saia de babados intensos, volumosos. O sapato com seu tacon vibrava em cima de qualquer tablao. Bons tempos! Tenho saudades.
Bem no fundo da gaveta tem uma latinha. Cheia de moedas. Peso Mexicano, Argentino e Chileno. Cents americanos. Euro. Moedinhas que sobraram de viagens e servem para lembrar o quanto amo conhecer pessoas, línguas, comidas, lugares. Fica lá bem guardadinhas no fundo da gaveta de lembranças.
Acho que essa minha primeira é gaveta de memórias, lembranças. É gaveta do tempo. Esse que passa tão rápido deixando pra traz vivências, mas abrindo espaço para futuros, quando blusa branca estraga e vem outra substituí-la.
