Há vida lá fora

Bruna Bittencourt
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readApr 29, 2024

Será que está sol hoje? Levanto da cama quase todos os dias com essa mesma pergunta. Ansiedade, desejo, torcida e, ao mesmo tempo, um (quase) medinho que vai tomando conta de mim enquanto abro a janela devagar. Tomara que sim, tomara que sim, por favor esteja sol. Ufa! Está sol, que delícia. De alguma forma, aquela luz toda que brilha lá fora logo cedo já me conta como vai ser meu dia. Está tudo bem, está sol. Energia e esperança que se misturam a partir de uma claridade que entra e toma conta do quarto sem pedir licença. Chega chegando e vai iluminando tudo de uma só vez. Que delícia, vai pra rua, ela me diz. É o que eu já acordo querendo fazer.

Tomo meu café pensando no meu primeiro compromisso do dia: botar a cara no sol. E se não é o primeiro, porque outras tarefas passam na frente, é o segundo. Ou o terceiro. Mas ele não pode ficar para depois. Coloco um top, visto uma regata, um shorts, calço meu tênis, pego a coleira da cachorra, fone de ouvido, celular na cintura e bora caminhar. Finalmente. Saio apressada, passos rápidos, não quero perder nem um minuto daquele sol maravilhoso esquentando meu rosto e meu corpo. Aquela luz que vai entrando por todos os poros, devagarzinho, tomando conta de tudo de novo. Iluminando tudo, dentro e fora de mim. Não sei nem porque, mas já estou sorrindo. Que delícia. Estar no sol me lembra de estar viva. E vou andando, agora mais devagar, na maior parte das vezes trocando o fone de ouvido pelos sons da rua. Nessa hora, eu me lembro que é mais gostoso e mais vibrante também. Ouvir a vida acontecendo ali, bem na nossa frente. Passo a passo. Não vale a pena tapar os ouvidos. Saio cumprimentando todo mundo. Seu Antônio da banana, os vizinhos, o moço da obra, a família com o cachorro, aquela mãe e o filho que vejo sempre passeando juntos... Uma grande comunidade de apreciadores do sol, penso eu.

De repente, gosto de parar no lugar onde está batendo o máximo de sol possível, fecho os olhos e fico ali, por alguns minutos, só recebendo. Sol, sol, sol. Vida. Renovando meu estoque de energia, se é que isso é possível. Uma louca de olhos fechados no meio da rua, devem pensar. Não me importo. Só quero aproveitar. Li no dicionário que o sinônimo de luz pode ser crença, fé. Acho que deve ser sobre isso também. Ao contrário do que recomendam os médicos, não costumo usar filtro solar nesses momentos. Não gosto. Não faz sentido criar uma barreira de proteção entre mim e essa luz tão potente que só vai fazer bem para todas as células do meu corpo. Que só faz renovar e renascer. Eu vou em busca do sol, não quero me proteger dele. Não agora. Não hoje. Verdade, talvez tenha a ver com fé mesmo.

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