Histórias lindas de viver

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Comunidade da Escrita Afetuosa

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Como a vida nos atravessa?

Dedicados à rotina, imergimos em uma sequência de cenas que nos condiciona. Vivemos um dia após o outro. Damos check nos compromissos. Viramos a página da agenda, pra ver o que o amanhã nos reserva. Espera. O futuro é uma miragem. Um esboço, desenhado com querer. Não temos garantia de vida pra os próximos segundos, minutos, horas, dias, meses, anos.

Apenas o presente nos pertence. O nosso tempo é hoje. A vida está sempre por um fio, que pode ser cortado a qualquer momento. Essa noção de finitude nos atravessa em experiências intensas e únicas.

Em Histórias Lindas de Morrer, Ana Claúdia apresenta histórias de quem conheceu o fim se aproximar lentamente. Devagarinho. A passos lentos. Sem pressa. A despedida acontece assim para os pacientes do Hospice. A casa de saúde fornece cuidados paliativos para pessoas com doença terminal. Em meio a dor e ao sofrimento, quem ingressa no espaço tem a chance de se desligar da vida aos poucos. E isso pode ser bom.

A vida é linda demais pra uma despedida abrupta, que chega de sopetão. Até os últimos dias, que se arrastam com dores, lágrimas, arrependimentos, confissões e conversas definitivas, as pessoas do Hospice mostram a força do querer. Por mais que estejam perto do leito de morte, de embarcar rumo a um destino imaterial e invisível, elas apresentam desejos. De abraçar um ente querido pela última vez. De doar todos os seus pertences. De tomar um banho de chuva, correndo o risco de pegar uma pneumonia. De ser sedado, quando começar a alucinar, para não revelar, nos delírios, segredos de uma vida.

As pessoas escolhem como se despedir. Nem todo mundo tem essa chance.

O adeus é um processo que traz sofrimento, mas também permite preparação. Nos dias no Hospice, os pacientes revisitam a vida com mais carinho, respeito e gratidão. É um exercício de amor próprio e de amor por todos aqueles que ficarão na trajetória terrena. Com lembranças. Com uma tristeza que comprime o coração.

As Histórias Lindas de Morrer tecem uma nota mental sobre a finitude real. Elas nos convidam a experienciar Histórias Lindas de Viver. Longe de nos atravessar como uma ameaça, a morte é o nosso destino final. Inevitável. Certeiro. O começo de um tempo novo. Sem matéria. Com saudade. Pra quem fica e pra quem vai.

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