Hora marcada para sofrer

Ana Paula Correa
Comunidade da Escrita Afetuosa
1 min readFeb 28, 2024

Olho no espelho de corpo inteiro. Me assusto com o que vejo: uma verdadeira mata atlântica entre as pernas. Vai ver é por isso que o marido anda evitando frequentar o local. A porta dos fundos não está muito melhor. Não consigo enxergar, mas sinto uns pelos entre os dedos. Ainda bem que minha mãe não me vê mais tomar banho!

Horrorizada ficaria.

“Homem gosta de mulher feminina. Lisa. Maquiada. Cheirosa. Calcinha minúscula. Sutiãs que te deixam com falta de ar. Mas os peitos …esses chegam até o céu”.

Pego o celular e marco hora pra sessão de tortura.

Cera quente, fria, marroquina, com chocolate, a laser? Tanto faz. O sofrimento é o mesmo. Fico com minha velha conhecida: a cera quente.

Peço que arranque tudo. Depilação completa. Passo os piores trinta minutos da minha vida. Pernas arreganhadas na cara de outra pessoa. Exposta. Vulnerável. Tortura.

Saindo da clínica escuto uma mulher perguntar para a secretária: “aqui faz clareamento anal?”

Preferi nem escutar a resposta.

Sofrimento tem limites.

Fevex2

--

--