Incômodos Infantis

Audry Santos
Comunidade da Escrita Afetuosa
1 min readFeb 25, 2024

Com frequência ouço pessoas exaltando a época da infância e digo: gosto de ser adulta, não tenho saudades do meu tempo de menina. Tive uma boa infância. Pais afetuosos, preocupados com o bem estar das filhas. Tive uma irmã que foi amiga e companheira ao longo do caminho. Recordo das brincadeiras que inventávamos, qualquer coisa servia, até os dedos das mãos.

Lembro-me, também, da minha mãe escolher quais roupas iria usar. E aquelas que nunca gostei de vestir eram as de festas. Vestido, meia-calça, sapato envernizado. Ficava lindo. Uma bonequinha. Lembro de ser elogiada nos eventos e do sorriso orgulhoso dos meus pais.

Mas eu também lembro do quanto odiava meia — calça. Ela me incomodava muito, sentia uma coceira nas pernas quase insuportável. E ainda tinha que tomar cuidado para não desfiar a peça. Nas festas encontrava com as primas de mesma idade, fazia novos amigos ali mesmo e, ainda, precisava me preocupar em ser comportada para não estragar o acessório. Era um revezamento de incômodos: ou me coçava, ou tolhia os movimentos.

Adulta, evito a meia-calça. Não importa que digam que deixa a perna mais bonita, que têm vários fios e tal. Vou com as pernas à mostra. Com varizes. Com manchas. Com a tatuagem. Livres.

Amo ser adulta pela possibilidade de fazer minhas escolhas, das mais triviais às mais complexas. Hoje, deixo os desconfortos para aquilo que é inevitável.

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Audry Santos
Comunidade da Escrita Afetuosa

Mineira. Leitora. Aprendiz de escritora. Fotógrafa por amor. Observadora do cotidiano. Amante de música, violão e corrida. Poética.