Insônia

Marilia Paiva
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readSep 30, 2024

Fui a primeira pessoa a fazer o exame do sono . Pelo menos nunca tinha ouvido falar em em polissonografia lá no início dos anos oitenta e tive que passar pelo procedimento por não dormir bem. Não acharam alterações significativas e continuo até hoje com noites agitadas. Como não durmo levanto cedo e nunca precisei de um despertador. Acordo com as galinhas, ou seria com os galos? Nunca entendi essa expressão já que o galo que amanhece cocoricando. Eu amanheço até antes dessas aves iniciarem seu clarinar.

Sempre foi assim até eu resolver adotar dois gatinhos com um ano. Nick e Marvin já foram morar comigo adultos. Viviam num parque no centro do Rio e foram parar no meu apto sem poder sair para o mundo que viam da janela telada.

Plácidos passavam o dia dormindo nas caminhas, nas redes das janelas vendo o Cristo Redentor enquanto eu trabalhava fora. Era só chegar à noitinha que a farra começava. Pulavam no sofá, sabiam no meu colo, vigiavam o meu banho assanhados.

Quando eu ia para cama me acompanhavam não para descansar mas para brincar.

Comiam meu cabelo , mordiscavam minhas pernas, cutucavam com suas patinhas e depois de pedidos insistentes paravam.

Assim eu conseguia descansar um pouco já no meu normal sono agitado.

Uma hora? Duas? Talvez três, mas bem antes do galo cocoricar sinto uma patinha no meu rosto me chamando delicadamente. Quando ignoro miam insistentemente. Levanto sonada e no automático coloco mais ração na tigela e volto para cama.

Meia hora e sinto novamente mordidinhas, tapinhas, rosronar.

Falo: meninos deixa a mamãe dormir.

Quase nunca tenho êxito.

Ponho para fora, e tenho que ouvir alguém batendo a porta.

Não aquento e coloco os dois pra dentro.

Cochilo.

Mais um cutucão .

Vejo o relógio. Duas horas.

É assim a noite inteira.

Tenho dois despertadores estragados, que me chamam de hora em hora.

Despertadores são para os fracos.

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