Limpeza

Alice Murrayr
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readApr 25, 2024

Estou reformando minha casa. Não é bem uma reforma, é mais uma manutenção. Lixar os tacos de madeira, pintura interna, e mais algumas coisinhas.

Primeiro carregamos todos os móveis para o terraço. Forramos estantes e armários com plástico .Não foi fácil, as costas doeram, os ombros, as pernas. — Ainda bem que fazemos ginástica — meu marido e eu comentamos. O lixamento começou. Dizem que não faz pó. Não é verdade. O pó e fenomenal. Foram dias de calor intenso. Sentada num cantinho do terraço, rodeada por moveis, o suor escorrendo como um rio pelo corpo. O teclado do computador desaparecendo por trás de uma névoa fina e a lente do óculos desaparecendo por trás de uma cortina avermelhada. No final do dia estava coberta como por argila, grudenta e amarelada. A boca seca com gosto de madeira. O cabelo como palha dura.

Ao subir para o segundo andar, olhava para os móveis desmontados e amontoados em um quarto, no meio nossos dois colchões no chão, um pequeno ninho. O quarto estava limpo e o banheiro também. Um oásis no meio ao caos. Após um bom banho me deitava no colchão com meu livro, minha lâmpada de cabeceira também no chão, óleo de lavanda para dormir bem. Ar condicionado ligado. Paraíso! Como podemos criar pequenos oásis e nos sentir plenos. Assim foi uma semana inteira. Na medida que um quarto ia ficando pronto e limpo mudávamos para ele. Assim dormi no quarto de cada um dos meus três filhos que não estão mais morando em casa. Acordar e olhar para fora da janela de ângulos diferentes da casa me deu uma perspectiva diferente da personalidade de cada um deles. Me senti enormemente feliz e grata. Depois de duas semanas acampada em casa colocamos os móveis de volta no lugar. Limpei todas as gavetas, todos os armários, estantes, livros, tudo. Passei por cada item que tenho dentro da casa. Me desfiz de muita coisa, o que me trouxe uma sensação de leveza e plenitude.

Encontrei velhos tesouros, cartinhas dos filhos que fizeram os olhos lacrimejar. Fotografias, livros, muitos livros. Alguns quero reler e voltaram para a prateleira, outros foram junto com roupas, louças e moveis para doação.

Hoje minha casa, armários, prateleiras estão limpas organizadas e eu, feliz. Enquanto escrevo, minha mesa de trabalho já está começando a ficar cheia de papeis, de livros, de contas e de projetos. Mesmo assim, não tem nada que esteja ai ha muito tempo. Então agora é pra frente e trabalhar neles.

Arrumar a casa para mim é arrumar minha vida. Colocar tudo no lugar, tirar o pó e olhar para o passado o presente e o futuro com gratidão. De vez enquanto ainda encontro um resquício de pó. Afinal não somo perfeitos. A sensação de renovação é plena.

Alice Murray Reimer

Abrex3

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Alice Murrayr
Comunidade da Escrita Afetuosa

Adoro livros, bibliotecas e livrarias e é claro uma boa história.