Maria medrosinha
Maria tinha medo de tudo.
Barata.
Mudança.
Buraco.
Morte…
Cansada de ser vista desde muito nova como a piada da família, a mais “frágilzinha”, resolveu traçar um plano bem maluco para os seus padrões tão contidos, até então.
Pegou o celular, e enquanto digitava, não acreditava nas letras que saíam:
Como viver perigosamente.
Os resultados foram aparecendo:
Salto de para-quedas.
“Meu Deus, e se ele não abrir? E como é que vou entrar num avião se tenho pavor de altura?”
Próximo!
Arvorismo.
“Você está me dizendo que preciso me equilibrar nesse fio ridículo? Se eu cair, o cordão de aço me segura?”
Acho que preciso de algo mais light!
Passeio à cavalo.
“Cê só pode estar de brincadeira! Se o bicho dispara, eu caio! Foi assim que o eterno Super Homem, Christopher Reeve ficou tetraplégico.”
Nem ela se aguentava mais.
Era realmente uma chata de galochas.
Preciso dar um basta nisso!
“Vou fechar meus olhos, rolar aqui a tela, e o programa que meu dedo encostar, vou ter que fazer!”
1,2,3 e já!
Abriu um olho para depois abrir o outro. Era um misto de (adivinhem!) medo com uma sensação estranha de não saber o que viria depois.
Incrédula, leu: aulas de surfe.
“Como assim, Jesus? Eu nunca vou conseguir ficar de pé numa prancha! Vou morrer afogada! Odeio engolir água salgada, a minha garganta arde muito!”
Do nada, se viu gritando: “CALA A BOCAAAA. Sai pra lá sua mente sabotadora dos infernos!”
Clicou no link e pagou adiantado por dez sessões. Seria mais difícil desistir considerando o rombo que teria em seu bolso.
Enfim, sábado!
Acordou antes das galinhas e foi em direção à rodoviária.
Depois de quatro horas dentro do ônibus (“Hello” todo tipo de vírus) chegou à pousada.
Foi até o quarto, colocou sua pequena mala em cima da cama e andou até a orla.
Tirou seus chinelos, deixou a areia branca e fofa penetrar entre os dedos.
Como tinha saudade disso — da liberdade do sentir.
Olhou para o lado e viu uma placa com o mesmo nome da escola de surfe que se matriculou. Tímida, foi colocando seus cabelos atrás da orelha.
Ehmmm Oi, eu sou a Maria, eu me matricu…
— Oi Maria!! Estávamos mesmo te esperando! Quer dar um “tibum” antes da primeira aula?
Tibum?
Eu?
— É, bora lá cair na água?
Hmmm.
A ansiedade começou a dar as caras quando ela respondeu que sim.
Titubeou mas assentiu.
Que maravilhoso era estar em um lugar novo, onde ninguém a conhecia!
Lá seus traumas não chegariam antes dela.
Era simplesmente Maria.
Naquele pedaço do paraíso sua vida poderia ser de outra forma e só cabia a ela escrever um futuro diferente e mais feliz.
Escrito em 29.05.24 por Shadya Hamad para a Comunidade da Escrita Afetuosa — Prof. Ana Holanda — Escrever a partir dos próprios limites — ficção — Maiex3.