Maria medrosinha

Shadya Hamad
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readMay 29, 2024

Maria tinha medo de tudo.

Barata.

Mudança.

Buraco.

Morte

Cansada de ser vista desde muito nova como a piada da família, a mais “frágilzinha”, resolveu traçar um plano bem maluco para os seus padrões tão contidos, até então.

Pegou o celular, e enquanto digitava, não acreditava nas letras que saíam:

Como viver perigosamente.

Os resultados foram aparecendo:

Salto de para-quedas.

“Meu Deus, e se ele não abrir? E como é que vou entrar num avião se tenho pavor de altura?”

Próximo!

Arvorismo.

“Você está me dizendo que preciso me equilibrar nesse fio ridículo? Se eu cair, o cordão de aço me segura?

Acho que preciso de algo mais light!

Passeio à cavalo.

“Cê só pode estar de brincadeira! Se o bicho dispara, eu caio! Foi assim que o eterno Super Homem, Christopher Reeve ficou tetraplégico.”

Nem ela se aguentava mais.

Era realmente uma chata de galochas.

Preciso dar um basta nisso!

“Vou fechar meus olhos, rolar aqui a tela, e o programa que meu dedo encostar, vou ter que fazer!”

1,2,3 e já!

Abriu um olho para depois abrir o outro. Era um misto de (adivinhem!) medo com uma sensação estranha de não saber o que viria depois.

Incrédula, leu: aulas de surfe.

“Como assim, Jesus? Eu nunca vou conseguir ficar de pé numa prancha! Vou morrer afogada! Odeio engolir água salgada, a minha garganta arde muito!”

Do nada, se viu gritando: “CALA A BOCAAAA. Sai pra lá sua mente sabotadora dos infernos!”

Clicou no link e pagou adiantado por dez sessões. Seria mais difícil desistir considerando o rombo que teria em seu bolso.

Enfim, sábado!

Acordou antes das galinhas e foi em direção à rodoviária.

Depois de quatro horas dentro do ônibus (“Hello” todo tipo de vírus) chegou à pousada.

Foi até o quarto, colocou sua pequena mala em cima da cama e andou até a orla.

Tirou seus chinelos, deixou a areia branca e fofa penetrar entre os dedos.

Como tinha saudade disso — da liberdade do sentir.

Olhou para o lado e viu uma placa com o mesmo nome da escola de surfe que se matriculou. Tímida, foi colocando seus cabelos atrás da orelha.

Ehmmm Oi, eu sou a Maria, eu me matricu…

— Oi Maria!! Estávamos mesmo te esperando! Quer dar um “tibum” antes da primeira aula?

Tibum?

Eu?

— É, bora lá cair na água?

Hmmm.

A ansiedade começou a dar as caras quando ela respondeu que sim.

Titubeou mas assentiu.

Que maravilhoso era estar em um lugar novo, onde ninguém a conhecia!

Lá seus traumas não chegariam antes dela.

Era simplesmente Maria.

Naquele pedaço do paraíso sua vida poderia ser de outra forma e só cabia a ela escrever um futuro diferente e mais feliz.

Escrito em 29.05.24 por Shadya Hamad para a Comunidade da Escrita Afetuosa — Prof. Ana Holanda — Escrever a partir dos próprios limites — ficção — Maiex3.

Foto de Alexandra Gorn na Unsplash

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