Medo de pizza

No quarto domingo de setembro os termómetros atingiram 36 graus em São Paulo. Se já foi desafiador até para os psicopatas fãs de clima quente, imagina para os amantes das temperaturas amenas e agradáveis, preferencialmente abaixo dos quinze graus, como eu.

Estava me trocando para ir à missa de manhã. O ventilador estava ligado a mil por hora, lutando bravamente contra o corpo que já começava a ficar melado de suor. Abri a porta do armário e olhei para as minhas roupas. “Preciso escolher uma blusa que não vá me deixar com pizza”.

Tenho pavor de pizza embaixo do braço desde que tinha onze anos, provavelmente porque experimentei os sintomas da puberdade com mais intensidade que minhas amiguinhas. Enquanto elas viviam a glória da pele sem espinhas e da sudorese controlada, eu mal podia pensar em usar uma blusa de manga que as axilas já começavam a transpirar. Eu precisava de um milagre que nem o desodorante clinical importado, aprovado por 9 em cada 10 dermatologistas, foi capaz de resolver.

Sempre que notava a presença das pizzas, eu costumava colar os braços ao redor do corpo com uma super bonder imaginária, numa vã tentativa de esconder as manchas que, francamente, pioravam ainda mais nessa situação. Tudo o que eu queria era abrir um buraco na terra e me enterrar ali — morta de vergonha.

Não me lembro se cheguei a sofrer alguma piada ou bullying para agir dessa maneira. Provável que sim. Mas é ainda mais provável que o maior vilão de todos morasse apenas dentro da minha mente. Sério que eu ia deixar uma insegurança da adolescência me assombrar? A essa altura do campeonato?

Então escolhi vestir uma blusinha legal, cinza de manga curta. Saí para enfrentar o bafo escaldante de São Paulo, rindo na cara do perigo. E quer saber? Nem transpirei!

De agora em diante, que minha única preocupação com pizzas seja a difícil escolha entre marguerita ou portuguesa.

Esse texto foi escrito para a Comunidade da Escrita Afetuosa
Alvorada — módulo 1 exercício 3
Escrever sobre algo nunca abordado