Minha mãe existe antes de mim, ainda bem!

Curioso pensar, é tão óbvio, mas nem tanto. Vou explicar. Minha mãe antes de mim foi filha, criança, estudante, adolescente, moradora, trabalhadora e tantas outras coisas antes de ser mãe. No entanto, em determinado momento, no caso dela bem jovem ainda, tornou-se mãe, e parece que nunca mais foi outra coisa.

Socialmente reconhecida e cobrada como mãe, afetuosamente ligada. Responsável e dedicada a ser mãe do primeiro, da segunda, da terceira e, por fim, do quarto. As brincadeiras da infância tornaram-se mais que real, em meio a fraldas, choros, carinhos, broncas, cuidados, escuta e tudo mais que a maternidade exige, minha mãe, você ficou para trás, seus sonhos e suas vontades também ficaram para mais tarde.

Onde ficou a profissional? A mulher? A pessoa individual? Ficou para depois, depois que eles andarem, que eles falarem e depois quando eles dormirem sozinho. Ainda mais distante quando eles se formarem, começarem a trabalhar, quando eles se casarem. Você que já existia antes de nós ficou para depois. E depois de nós como você ficou?

Com ninho vazio, com o dia, a mente e a casa livre. As demandas ainda existem, e eu acredito que sempre vão existir, mas são menos frequentes. Mais da metade da vida exercendo a maternidade como foco central na sua vida e agora tudo novo.

— Minha mãe depois de mim, de nós, você ainda continua sendo você.

Que incrível, que assim como antes de nós mãe, você está aprendendo sobre você. Aos 54 anos, cada dia mais vive como a mulher, a leitora, a trabalhadora, a viajante e tantas outras personalidades que vivem em você.

Mãe que bom que você existe antes de mim, que bom que eu existo com você e que maravilhoso continuarmos existindo juntas!

Carolina Nascimento — #auroramod1ex