não me contem a história da Dona Flor!

Luciana Godoi
Comunidade da Escrita Afetuosa

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Não assisti a mais do que três minutos da história da Dona Flor.

Talvez eu volte para ela quando já puder ver meu menino do lado de fora, enquanto apoio a mais velha no abrigo do meu abraço.

Por enquanto, sendo morada do incontrolável, não consigo deixar passar (pelos olhos, garganta e todo o resto) tantas histórias sobre o nascer. Nem sei se é disso que trata o documentário, foram só três minutos. Mas três minutos de gatilhos, um atrás do outro.

E agora preciso só de respiro. Inspirar em quatro tempos, segurar quatro, expirar mais quatro. Preciso me concentrar na beleza dos movimentos na minha barriga e nas promessas que eles me trazem. Fechar os olhos e imaginar como serão os dele, e mais ainda como os dela brilharão quando os descobrir.

Enquanto espero, quero sonhar com o que há de mais bonito, e cortar em pensamento, com uma tesoura bem afiada, todo tipo de vislumbre ruim.

É que Dona Flor narrou ali, nos primeiros segundos, sua bravura em salvar a vida da mãe, enquanto ela paria mais um irmão. Só de escrever essas palavras sinto meu estômago embrulhar, justo onde mora todo o meu medo, justo onde pende todo o meu mundo.

Não quero saber, não me contem! Mesmo que o final seja feliz.

Dona Flor, meu amor, te peço que perdoe minha pouca coragem.

Sem nem deixar correr os cinquenta minutos da sua história, sei que é das mais belas. Mas, por hoje e pelos próximos três meses, quero só guardar em mim a (in)certeza de que a minha também será… tomara que de percursos mais leves do que a sua, mas de igual e escancarada beleza nos recomeços.

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