Não Vou Dirigir

Cynthia Teixeira Esteves
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readApr 27, 2024
Photo by Paulo Pescada on Unsplash

“Você TEM que dirigir!”

Não sei quantas vezes eu já escutei isso desde os meus vinte e poucos anos, quando resolvi que não queria mais dirigir. Demorei muito para a pegar no volante e, quando decidi começar, durou pouco. Saí com pessoas diferentes e sozinha, andei pela cidade e só pelo bairro. Nenhum acontecimento fez com que eu desistisse, só nunca tinha vontade. Das poucas vezes que peguei o carro só para treinar, achava bom, mas cansava e me desfocava com facilidade.

Ouvir que eu tenho que pegar um carro e sair andando por aí, é como ouvir que preciso cumprir uma lei ou serei presa. Consigo até imaginar perfeitamente como seria se eu dirigisse:

É fim de tarde em São Paulo. Trânsito intenso na Avenida Paulista (só pra variar um pouco). As pessoas dentro de seus carros, estressadas, bufando e buzinando loucamente, como se o barulho pudesse abrir um caminho por entre os carros, assim como Moisés fez como o mar vermelho. Eu estou no meu carro, bem plena, com os vidros fechados, ar-condicionado no mínimo e escutando um rock pesado.

Do nada, o trânsito flui — e não, não foi um milagre do santo da buzininha, só andou mesmo — as pessoas continuam buzinando como se não houvesse amanhã. Eu fico nervosa, tensa e me sinto pressionada para andar logo; o carro morre umaduastrêsquatro vezes seguidas me deixando estressada mais ansiosa e com falta de ar. As buzinas continuam, mas agora são para mim mesma. Consigo fazer o carro ir. Mas a tensão fica.

Não é pessimismo, é apenas uma realidade. Tive algumas experiências que me mostraram que dirigir simplesmente não é para mim. O carro já morreu em uma subida simples, cansei e fiquei desatenta enquanto dirigia e gente que me fechou pela direita. Sorte de principiante, eu sei. Mas, por mais que ter um carro signifique ter independência e poder ir para onde eu quiser sem depender de ninguém ou de transporte público, não me agrada.

Ainda prefiro andar de metrô e taxi. Não vou dirigir apenas por acharem que isso é uma obrigação. Pelo menos essa é uma maneira de me fazer prestar mais atenção no cotidiano e criar novas histórias.

Texto para Comunidade de Escrita Afetuosa
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Cynthia Teixeira Esteves
Comunidade da Escrita Afetuosa

Escritora taurina e introvertida. Escrevo Crônicas sarcásticas mas que também fazem pensar.