Namoro

ME
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readJan 19, 2024

Já o namorava há distância fazia tempo. Primeiro uma trilogia pequeninha e está encostada no início de uma fila longa de livros a serem lidos. Será a primeira ou a última obra a ser lida? Ou entrará para a lista de eternos “esses que lerei um dia”?

Depois um trecho de uma entrevista apareceu em uma aula. Ali ele ganhou luz, voz, corpo, olhos. Deixou de ser apenas um nome bonito numa capa. Foi quando deu um clique. “Hum, muito legal isso que ele falou, vou ler o livro”. Pensar não foi o suficiente para tirar da fila. Bem que ele merecia, tá lá há uns dois anos…

Em dezembro ele apareceu de novo. Dessa vez em um podcast de literatura. E como o tempo (ou a esteira) passou rápido?! Ouvir suas histórias, seu jeito de contá-las, é raro e nunca acontece de ouvir um programa até o fim. O dele eu ouvi. Um pouco antes do Natal, em um amigo oculto virtual de livros, duas queridas começam o encontro falando apaixonadamente dele. O haviam escutado em uma palestra em um congresso de literatura infantil e estavam encantadas. Muito. Disseram que foi um debate sensacional-divisor-de-águas-na-vida-arrebatador. Uma das duas me tirou e deu um livro dele (e não era a trilogia!).

Comecei 2024 lendo “Inventário do azul”, de João Anzanello Carrascoza. E até agora estou com ele flutuando dentro de mim. Pensando em mil Informações Simples, Tão Simples que não Constam no Contrato. Pensando em um homem que nem é tão velho, mas está fazendo seu inventário, se preparando para a morte. Desembolando sua rabiola de penduricalhos, amores, lembranças, pensamentos, vazios e cheios, solidão e solitude.

A trilogia continua no começou (ou final) da fila. Depois que o inventário sumir debaixo de uma pilha de novas histórias, outros problemas, eterna correria e despertador tocando, espano o pó e a trago pra perto.

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