Ninho, núcleo de trabalho, amor e legado

falecomariadna
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readFeb 29, 2024

Nuvens cinzas desenhadas no ceú. Carregadas de água. Ventania. Curvas no ar. As folhas secas fazem dança até caírem no chão. As gotas se dissipam com cadência. Lá vem a chuva. Os pássaros se recolhem, para prover acalento e calor no ninho.

Mas também têm a liberdade de dar rasantes pelo céu. A qualquer tempo. A água não é um problema para os seres com asas. Assim como outras aves, o João-de-barro é resistente ao líquido abençoado que vem do alto. Incansável. Há quem diga que não trabalha aos domingos. Mito. Construir o ninho leva tempo. No mínimo, 18 dias. Talvez, um mês. Sem calendário, sem horas contadas. Por instinto, sabe do seu prazo. Honra o compromisso. Esse é o manto sagrado do João-de-barro. Sua assinatura é sua dedicação.

Faca chuva, faça Sol, o João e a Maria-barreira desenham o ninho juntos. Em formato de espiral.

[A estrutura revela um movimento constante. Equilíbrio. Organização. Começo, meio e fim. Ordem. Tudo combinado num ninho feito de barro. Em curvas que se completam e se encaixam. Com amor e muitas bicadas, a espiral se torna abrigo.]

Nas cidades, com muito cinza e pouco verde, o João-de-barro escolhe o peitoril das janelas. Ali, ele e a Maria-barreira se revezam. Um busca o insumo da casa, enquanto outro desenha a espiral. É a divisão de tarefas. O casal é um time, concentrado na obra que irá abrigar outras vidas.

O projeto é feito à moda antiga. Nada de conceito aberto. Uma parede separa a entrada e a câmara incubadora. Tudo é pensado para a proteção dos filhotes. Com o berçário, eles ficam longe das correntes de ar e de possíveis predadores. Cada cômodo tem sua função.

O cuidado com cada elemento do ninho é instintivo. Mas também é sinal de puro amor. Quem ama, cuida e constrói um legado. Aprendi com o João de Barro.

#fevex1

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