Ninho, núcleo de trabalho, amor e legado
Nuvens cinzas desenhadas no ceú. Carregadas de água. Ventania. Curvas no ar. As folhas secas fazem dança até caírem no chão. As gotas se dissipam com cadência. Lá vem a chuva. Os pássaros se recolhem, para prover acalento e calor no ninho.
Mas também têm a liberdade de dar rasantes pelo céu. A qualquer tempo. A água não é um problema para os seres com asas. Assim como outras aves, o João-de-barro é resistente ao líquido abençoado que vem do alto. Incansável. Há quem diga que não trabalha aos domingos. Mito. Construir o ninho leva tempo. No mínimo, 18 dias. Talvez, um mês. Sem calendário, sem horas contadas. Por instinto, sabe do seu prazo. Honra o compromisso. Esse é o manto sagrado do João-de-barro. Sua assinatura é sua dedicação.
Faca chuva, faça Sol, o João e a Maria-barreira desenham o ninho juntos. Em formato de espiral.
[A estrutura revela um movimento constante. Equilíbrio. Organização. Começo, meio e fim. Ordem. Tudo combinado num ninho feito de barro. Em curvas que se completam e se encaixam. Com amor e muitas bicadas, a espiral se torna abrigo.]
Nas cidades, com muito cinza e pouco verde, o João-de-barro escolhe o peitoril das janelas. Ali, ele e a Maria-barreira se revezam. Um busca o insumo da casa, enquanto outro desenha a espiral. É a divisão de tarefas. O casal é um time, concentrado na obra que irá abrigar outras vidas.
O projeto é feito à moda antiga. Nada de conceito aberto. Uma parede separa a entrada e a câmara incubadora. Tudo é pensado para a proteção dos filhotes. Com o berçário, eles ficam longe das correntes de ar e de possíveis predadores. Cada cômodo tem sua função.
O cuidado com cada elemento do ninho é instintivo. Mas também é sinal de puro amor. Quem ama, cuida e constrói um legado. Aprendi com o João de Barro.
#fevex1