O olhar

Roberta Assumpcao
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readJul 20, 2023

Um olhar pode possuir várias nuances. Ser protagonista de uma infinidade de histórias.

Poderia ser o aconchego dos olhos apertadinhos que sorriem sem precisar mexer os lábios?

Poderia ser o olhar orgulhoso compartilhando em silêncio uma vitória?

Sempre há possibilidades.

Mas não será dessa vez. Não nessa história.

Nessa história o olhar que te encara de cima abaixo não possui o brilho que procuramos em um parceiro. Tampouco a profundidade da cumplicidade de velhos amigos.

Não. Esse não.

Esse olhar é o que julga. Critica. Vê, mas não enxerga. Fixa em qualquer outra coisa para não precisar encarar. Destila veneno enquanto profere amor.

Sim, cabe muita dualidade em um olhar.

Por muito tempo procurei enxergar uma razão. Como um detetive que investiga um assassino em série, buscava entender os olhos de vidro que atravessavam meu corpo como fantasmas atravessam paredes.

Descobri várias. Não aprendeu a amar. Sua insegurança. O narcisismo patológico.

No entanto, percebi como um mísero olhar, independente da razão, é perigoso.

Pode gerar um sentimento causador de guerras. É capaz de transformar uma pessoa sã em uma metralhadora nas mãos de um terrorista sem nada a perder. É um furacão que varre a serenidade com ventos destruidores da paz interior.

Mas depois de ser o estopim de tanto caos, o pequeno olhar pode se transformar em uma força poderosa. Indiscutivelmente perigosa para quem o lançou. Direcionado a uma alma calejada, ele se torna o brilho que ilumina sombras. Como em um abafado laboratório fotográfico, revela caminhos para a cura.

E assim, finalmente, é transformado em paz.

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Roberta Assumpcao
Comunidade da Escrita Afetuosa

Escritora amadora que tecla compulsivamente para alcançar as 10.000 horas de treino que te torna profissional. Quer tc? : @palavruda