O peito veio pra festa

Pollyana Teles
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readFeb 28, 2024

Escolher uma roupa para uma festa. Para as mulheres. Nunca é fácil. Não costumo me importar o que vão achar das minhas roupas. Não sempre. Às vezes. Está bom… importo de alguma forma. Não podia gastar dinheiro naquela época. Várias prestações arrochando meu cartão. Por mais que a aniversariante dissesse que não queria ninguém vestido à la um baile de gala, não diminua minha aflição. Tinha um vestido roxo, usei no casamento da minha prima. Descubro que roxo é a cor da festa. Por água abaixo o plano de pouco gasto. Recentemente, descobri um aplicativo de roupa. Rindo de mim ao lembrar. Imagina que comprei mil e trezentos. Chego a esquentar de nervoso. Estourei meu cartão. A caixa chega. Duas opções. Um vestido laranja queimado. Macacão branco linho. Que desconforto me projetar nessa festa. O vestido, me sentia, excessivamente, sensual. Macacão elegante, porém um decote generoso nos seios. Por que para a mulher é tão difícil tudo? Era só uma festa. Entretanto, tomou dias dos meus pensamentos. Decide ir com o macacão de linho branco. Pantalona. Minha tia costura pra fora. Levei correndo pra ela dar um jeito naquele a-mos-trar demais. Ela teve uma ideia brilhante. Ficou apenas uma abertura, levemente, travesso. Não foi suficiente. Deveria ter feito curso de fita. Coloquei as tiras no peito, não prendia, virou um emaranhando, um trem horrível. Segurou. Era o que pensava. Me chamaram para tirar foto. Ao olhar no celular. Misericórdia. O peito veio pra festa. Puxava. Tentava outra posição. Não podia levantar o braço na pista de dança. Por que não vim com o roxo? Mojito, por favor. Mais um. Mojito. Me senti de volta a adolescência. Saía sem me preocupar se a roupa era nova. Mas isso não impedia dos olhares de cima pra baixo. Festa incrível. Curti. Diverti. Sentei numa cadeira afastada. Soluço preso na garganta. Inapropriada. Exposta. Emoções nua. Mas ninguém viu.

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