O quase indescritível

Oriana Freire
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readJun 28, 2024

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Tenho andando por muitos lugares mundo afora e para não perder o registro dessas andanças, escrevo as suas histórias descrevendo alguns lugares ou contando situações passadas neles.

Recentemente fui escrever sobre a viagem a Barcelona e tive dificuldades em fazê-lo. Ficava imaginando como contaria sobre os locais que são fruto da criatividade do genial arquiteto Gaudí. Não dá para falar dessa cidade sem falar nele porque ela não existe sem ele e vice versa. As marcas que deixou pela cidade faz a gente sair de lá impregnado pelo espírito de suas obras.

Queria saber mais sobre esse artista da construção e da arquitetura o qual demorei a conhecer e nem sei o porquê. Quando estive lá, até comprei um livro que fala de sua trajetória e de suas obras. Quando passava pelos prédios os quais ele projetou, após muito olhar e avaliar os detalhes concluía que dizer serem bonitos, lindos, impressionantes eram palavras muitos generalistas para defini-los.

Quando estive na Basílica da Sagrada Família, essa sensação se intensificou. Depois do impacto de ver uma igreja tão diferente de tudo o que já havia visto, veio a pergunta: o que é isso? Ainda não sei a resposta porque até agora não imagino como um ser humano pôde deixar a sua mente voar tão longe em uma época de restrições tecnológicas, ideológicas e religiosas, considerando que tudo isso está implícito naquela excêntrica obra-prima.

A primeira vista poderia dizer que, de alguma forma, ela remete a um castelo com suas diversas torres. Mas eu só estaria falando de formato e ela vai muito além. Passei um bom tempo observando as diversas esculturas em pedra de pássaros cheios de simbologia como os pelicanos e a pomba do espírito santo; a cobra da tentação; tartarugas sob torres representando as bases do universo; animais do zodíaco; soldados; anjos celestiais com instrumentos musicais e do juízo final com armaduras; arqueiros e cenas da bíblia retratadas em uma de suas fachadas, as quais somam três ao todo. O chão nos subtrai outro tempo quando tentamos decifrar o sentido de seus desenhos riscados sobre um piso também impressionante.

Na fachada principal ou do Nascimento, como é chamada, pude ver quatro torres frontais mais estreitas em formato de foguetes, mas com tantos entremeios mais parecem revestidas por um crochê de pedra, na verdade inspiradas no esqueleto humano. À esquerda temos uma construção que se assemelha a uma casa estilo germânico com quatro pontas e quatro rosáceas góticas. Acima delas ainda vemos mais quatro pontas decorativas com quatro florões, estruturas em formato de margaridas com uma espécie de coroa em suas pontas. Ainda dessa fachada, podemos ver a Torre da virgem Maria, mais alta e com um diâmetro maior e uma estrela de vidro de doze pontas. A Torre central, a maior de todas, simbolizando o Cristo ainda em construção bem como as dos quatro evangelistas ao seu redor, também em construção. Para quem sobe em uma das torres, consegue ver que sua escadaria foi propositadamente feita como um grande caracol.

Não creio que poderia continuar a descrevê-la, então apenas como uma tentativa, ousei falar de parte da maior fachada. Assim como as outras obras do autor, o mais sensato seria aconselhar uma pesquisa a respeito e, se possível, uma visita “in loco” porque não são o tipo de coisa a qual podemos detalhar. Certamente seria difícil imaginar tantas miudezas como fruto de inúmeros simbolismos, cores, materiais, formatos, tudo misturado em cada centímetro de construção. Dito isso, ressalto que há muito para se ver naquela cidade, além da face “gaudiniana”, entretanto, para jamais esquecer, só as suas criações.

Oriana Freire — Exercício 2 — Junho/2024

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Oriana Freire
Comunidade da Escrita Afetuosa

Amante da literatura. Viajante das crônicas. Devoradora dos livros. Autora dos blogs: Viajando na Crônica e Viajando e contando