Onde mora nosso riso: uma carta sem endereço.
Ás vezes eu tenho vontade de te escrever como se nada tivesse acontecido. Aparecer dizendo que lembrei de você em um detalhe ou outro, que parei pra imaginar por onde é que você anda, como é que você está, como estão os planos, os amores, que sinto falta da sua risada, que a gente é isso mesmo, uma obra de arte em constante processo e por isso, passíveis de acertos e erros… Mas apenas fecho meus olhos e te mando amor. Eu sempre disse que você era um pedaço meu solto no mundo, não é? Então. Você me leva por aí e eu te levo por aqui.
Recuperei um caderno antigo esses dias. Aquele preto, sabe? Que a gente escreveu uma lista de palavras engraçadas pra ler e rir sempre que a vida não estivesse fácil? Então. Na verdade essa lista é a forma mais genuína de aliviar a saudade de você. Da nossa amizade. Sempre construída no humor apesar de tudo. O cotidiano permitia e dava criatividade pra gente rir de nós mesmos e encontrar graça nas coisas durante vinte longos anos.
Escolhi algumas, as melhores, e enquanto lia me lembrei do exato momento em que colocamos no papel. Intervalo de uma aula de teatro. Tem sua letra.
Sebão
Cachorrona
Sabiá
Catapora
Semirames
Pinacolada
Diabinho
Zarabatana
É impressionante o frescor de cada uma. Ainda consigo rir de todas elas. Com você junto. Dentro de mim. A vida da nossa amizade em uma folha de papel. A memória do que sempre achei que seria para sempre, hoje, morando no meio de um caderno antigo. Lendo eu ri, chorei, ouvi Mercedes Sosa (que tocou aleatoriamente na playlist) uma das suas preferidas. Questionei se essa saudade também mora em você e percebi que hoje somos pessoas tão diferentes… É saudade do que fomos ou saudade de quem somos um pro outro? Ainda não descobri e não pensaria nisso, se não fosse o exercício da comunidade de escrita que me fez te escrever. “Para o amigo que está longe.”
Fechei o caderno e os olhos como quem te abraça telepaticamente. Lidando com a alegria e a tristeza das nossas memórias, mas te mantendo ali, ao alcance das minhas mãos, dentro do caderno na minha caixa de memórias e no meu coração. Longe? Só dos olhos. Continuo te levando aqui e você carregando um pedaço meu, por aí.
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