Para todo o mal, a cura
Não há ritual mais curandeiro para ela que este.
Pisar na grama descalça remendou seu coração tantas vezes destroçado.
A palma da mão que carrega a linha da vida renova o fôlego quando encosta no tronco da árvore.
reCARREGA a vontade de viver.
Aprendeu com os anos que isto lhe resgata das dores do passado e do medo do futuro.
Lhe faz fincar raízes no presente.
Ah o presente.
Que presente é sentir a textura das pétalas das flores, as cócegas que a grama espinhenta e molhada faz em seus pés, as gotas de chuva nas folhas pelas pontas dos seus dedos, a aflição dos grãos de terra marrom e fértil debaixo de suas unhas.
Observar as árvores que dançam com o vento do fim da tarde.
A joaninha que pousa em seu braço.
Os pássaros que cantam em seus ninhos.
O cheiro que antecede a tempestade.
As nuvens com formatos de bichos em dias de céu azul.
Poderia passar horas listando tudo o que aprendeu a valorizar ainda mais após os longos dez anos que viveu no deserto.
Onde tudo era artificial.
Cor de laranja com um requinte de prédios modernos e espelhados.
De volta ao país que é o pulmão do mundo, aprendeu que o verde é seu antídoto para dias cinzentos.
É em meio à natureza que se conecta com quem mais ama e que tem conversas mais profundas com o criador de tudo.
Sobre a relva com gotículas de orvalho, seus pés desnudos lhe confidenciam que sim, ela pertence a este mundo e que pode e deve ser feliz.
Escrito em 28.04.24 por Shadya Hamad para a Comunidade da Escrita Afetuosa — Prof. Ana Holanda — Escrever como auto cura. Abrex3